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Árabes vêem modernização ocidental com desconfiança

(am)22 de junho de 2004

Joschka Fischer insistiu em maior engajamento dos países do Golfo Pérsico contra o terrorismo e na estabilização do Iraque. Governos regionais vêem iniciativa ocidental de modernização dos países árabes com desconfiança.

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Chegada de Joschka Fischer (dir.) a DubaiFoto: AP

"Uma voz árabe forte é necessária para co-determinar as condições políticas básicas do século 21", afirmou o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, em conversa com o sultão Qaboos bin Said, do Omã, nesta terça-feira (22/6). Além da capital omani Mascate, o ministro esteve também em Dubai e Abu Dhabi. A visita ao Omã encerrou a sua viagem de três dias ao Golfo Pérsico.

Nos Emirados Árabes Unidos e no Omã, Fischer conclamou a um engajamento maior e papel ativo dos dois países para garantir a estabilidade e a segurança na região. Um motivo de grande preocupação para o governo alemão é a escalada do terrorismo na vizinha Arábia Saudita e no Iraque.

Estabilidade do Iraque

Em Abu Dhabi, o ministro alemão insistiu na necessidade de os países árabes abertos às reformas, como é o caso dos Emirados Árabes Unidos, fazerem valer sua influência para evitar uma completa desestabilização do Iraque. "Ninguém pode ter interesse numa guerra civil iraquiana", afirmou Fischer. A seu ver, os fatores mais importantes para estabilizar aquele país são a transferência do poder aos iraquianos, além da realização de eleições.

Joschka Fischer expressou também a sua profunda preocupação com o atual desenvolvimento político na Arábia Saudita, após a decapitação de um americano por parte de terroristas da Al Qaeda. "Temos de cooperar muito estreitamente na luta contra o terrorismo", afirmou. A segurança da Europa também depende da segurança nos países árabes.

Os Emirados Árabes Unidos apóiam a reivindicação da Alemanha por um mandato permanente no Conselho de Segurança da ONU. A Alemanha reassumiria assim o seu "papel natural" nas relações internacionais, afirmou o vice-ministro de Relações Exteriores dos Emirados, Abdullah Raschid.

Modernização

A liderança política dos Emirados Árabes Unidos mostrou-se reservada em relação ao apoio de Fischer à iniciativa ocidental de modernização dos países árabes. Segundo Raschid, "democracia e direitos humanos não podem ser impostos de fora, mas têm de vir de dentro da própria sociedade".

Para o ministro alemão, a iniciativa para o Oriente Médio tem por objetivo uma verdadeira parceria. Mas admitiu existir a desconfiança de que as reformas "sejam implantadas de fora". O exemplo dos modernos países do Golfo, com a sua economia florescente, demonstra que existe um caminho positivo para que o mundo árabe participe da globalização.

Pena de morte

No Omã, última estação da sua viagem, Joschka Fischer intercedeu em favor de uma cidadã alemã, ameaçada de condenação à morte. Em conversa com o sultão Qaboos bin Said, o ministro alemão das Relações Exteriores manifestou a sua confiança na Justiça do Omã e ressaltou que a Alemanha rechaça basicamente a condenação à morte e a execução dos condenados.

Dana G., fisioterapeuta alemã de 29 anos, natural de Chemnitz, transferiu-se para o sultanato há cerca de dois anos, depois de se apaixonar por um cidadão do Omã. No final do ano passado, ela recebeu ali a visita de seu pai. Pouco dias depois de sua chegada, ele foi abatido a tiros em plena rua. Tudo indicava tratar-se de um atentado terrorista.

Seu corpo foi cremado e as cinzas trazidas pela filha para serem sepultadas na Alemanha. Ao retornar ao Omã, Dana G. foi presa sob a acusação de ser a mandante da morte do pai. As autoridades do sultanato basearam-se na confissão, depois desmentida, de um dos autores dos disparos. A sentença é esperada para o dia 17 de julho.