Áustria simula defesa contra "invasão" de migrantes
26 de junho de 2018Centenas de policiais e soldados austríacos realizaram na manhã desta terça-feira (26/06) um exercício simulando a chegada de um grande grupo de refugiados na fronteira entre Áustria e Eslovênia. O ministro do Interior austríaco, Herbert Kickl, afirmou que a operação deve transmitir uma "mensagem clara para o mundo".
Kickl, que é membro do populista de direita Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), disse estar "firmemente determinado a impedir" a repetição de eventos como os ocorridos em 2015, no auge da crise de refugiados na Europa. "Um Estado que não protege eficazmente as suas fronteiras perde sua credibilidade", acrescentou.
As manobras incluíram a simulação de situações de defesa contra um grande afluxo de migrantes. O exercício, segundo o ministro, visa contribuir para aumentar a confiança dos austríacos nas medidas de defesa fronteiriça.
O exercício, que envolveu 500 policiais e mais de 200 soldados, foi realizado em Spielfeld, um ponto da fronteira com a Eslovênia onde milhares de pessoas entraram na Áustria, durante o ápice da crise dos refugiados, no segundo semestre de 2015.
Atualmente, entretanto, muito poucos refugiados chegam ao local. "O número dos que chegam é praticamente zero", ressaltou o diretor da polícia da região, Fritz Grundnig.
As simulações na fronteira provocaram nos últimos dias críticas do governo da Eslovênia. A ação havia sido planejada para ocorrer durante um importante feriado esloveno, tendo sido adiada.
Após o anúncio dos planos austríacos, o ministro do Interior esloveno, Vesna Györkös Znidar, afirmou que o exercício não contribui em nada para melhorar as relações entre ambos os países e os esforços comuns na política de refugiados.
"Debate provocado pela Alemanha"
O vice-chanceler austríaco, Heinz-Christian Strache, também do FPÖ, citou, em entrevista ao jornal alemão Bild, o "debate sobre fechamentos de fronteiras internas europeias, lançado pela Alemanha", como uma das razões para o treinamento .
A questão migratória tem provocado severa disputa interna no governo da Alemanha, depois que a União Social Cristã (CSU) – partido irmão da União Democrata Cristã, da chanceler federal Angela Merkel – propôs a rejeição na fronteira dos migrantes que já tenham sido registrados em outros países europeus. Merkel se opõe à ideia, argumentando que o problema necessita de uma solução europeia e de acordos bilaterais com parceiros europeus.
A ação austríaca, de importância sobretudo simbólica, ocorre num momento de divisão na União Europeia (UE) sobre a reformulação da sua política de refugiados. A UE vem discutindo há tempos uma reforma de seu sistema migratório para superar os problemas surgidos pela entrada de mais de 1,5 milhão de migrantes e requerentes de refúgio no bloco desde 2015.
O governo da Áustria defende o endurecimento do controle nas fronteiras europeias, assim como o Grupo de Visegrad – composto por Eslováquia, Hungria, Polônia e República Tcheca. Estes quatro países do Leste Europeu se opõem ao sistema de redistribuição de requerentes de refúgio entre os Estados-membros da UE, estabelecido pelo bloco europeu em 2015, e defendem a criação de centros de apoio a refugiados em países fora do bloco, onde estes seriam registrados antes de chegar à Europa.
Enquanto isso, o novo governo populista em Roma faz pressão por uma melhor distribuição dos migrantes e um fortalecimento das fronteiras externas do bloco, argumentando que a Itália já recebeu quase 700 mil migrantes desde 2013.
MD/dpa/rtr
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