Diálogo da Vale Moçambique com oleiros é alvo de críticas
25 de abril de 2013"Aqui temos muitos problemas: das casas, das machambas, da olaria", refere um oleiro moçambicano, que prefere não ser identificado por motivos de segurança. "Temos de resolver o assunto de uma vez."
Na semana passada, uma manifestação dos oleiros de Cateme, na província de Tete, diante da empresa brasileira Vale, levou as duas partes e o Governo a sentarem-se à mesa de negociações. Os oleiros exigem uma indemnização de 120 mil meticais (cerca de três mil euros), contra os 60 mil meticais pagos até aqui por terem perdido a sua fonte de renda na zona que está agora nas mãos da Vale, no âmbito da exploração do carvão mineral.
Entretanto, esse diálogo ter-se-á transformado numa intimidação, segundo Jeremias Vunjanhe da ADECRU, Ação Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais.
"A Vale limitou-se a culpar as famílias, mostrar os prejuízos pela paralisação e exerceu, sobretudo, uma grande pressão psicológica ao trazer um dos seus chefes de segurança e inteligência empresarial e também um comandante da Polícia da República de Moçambique", diz Vunjanhe. "Isso tem de ser denunciado porque desvirtua o sentido de uma verdadeira negociação que se previa que acontecesse."
Desencorajamento
O ativista da ADECRU acredita que o diálogo não passa de uma identificação das pessoas à frente dos protestos e que, por isso, as famílias de Cateme sentem-se também desencorajadas a reivindicar os seus direitos.
De lembrar que a polícia recorreu à força para afastar os descontentes do recinto da Vale, tendo ferido alguns deles. Há relatos de que as autoridades policiais continuam no local. Mas, contactado por telefone pela DW África, o comandante da Polícia da República de Moçambique em Tete, Jaime Mapume, recusou prestar esclarecimentos.
Preservar a imagem
De salientar que, primeiro, a Vale recusou-se a satisfazer as exigências dos reassentados, mas dois dias depois disse num comunicado, citado pela imprensa moçambicana, que pretende criar pequenas iniciativas de geração de renda para os oleiros.
No entanto, Jeremias Vunjanhe, da ADECRU, olha com desconfiança para esta mudança: "Não acredito que a Vale tenha recuado. Acredito, sim, que a empresa mineira está a usar este pronunciamento como uma estratégia de recuperação da sua imagem a nível internacional", diz.
Segundo o ativista, "este pronunciamento não passa, mais uma vez, de uma estratégia de fuga 'para trás e para a frente'."
Queixas de intimidação
Relativamente ao Governo moçambicano, este também tem intimidado os queixosos, de acordo com Jeremias Vunjanhe: "Nesta quarta-feira, o governador de Tete teve uma reunião de emergência com as famílias e elas estão a denunciar que o governador as ameaçou e disse que a Vale não tinha nada a pagar às pessoas."
Uma solução para o caso seria a intervenção da Procuradoria da República e Comissão Nacional dos Direitos Humanos, considera a ADECRU. Enquanto isso não acontece, os residentes de Cateme aguardam por um bom desfecho nesta sexta-feira. Mas se isso não acontecer, o que farão os oleiros?
"Já disse que essa é uma resposta de todos nós, de mim não. Nós não podemos sair assim, umas coisas escritas, e dinheiro ir para outro lado", diz um oleiro. "Haverá uma solução. Vamos sempre dialogar com a Vale."