Em Moçambique, turismo de lazer sufocado pelos negócios
6 de outubro de 2014Empresários de turismo de lazer queixam-se do retrocesso do setor em quase todo o país, devido ao desenvolvimento dos recursos naturais.
Os recursos naturais trouxeram um acentuado desenvolvimento do turismo de negócios, localizado em Maputo, no sul do país, Tete, no centro, e Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Por causa disso, os operadores do turismo de lazer sentem-se sufocados pelos preços praticados no segmento de negócios.
João das Neves do setor do turismo da Confederação das Associações Económicas (CTA), refere que houve uma mudança repentina no segmento de lazer.
"Começou a sentir uma certa derrapagem e em muitos casos regrediu mesmo, quer em número de turistas, quer em termos de desenvolvimento," revela.
"Isto veio a acontecer num momento em que, por um lado, havia maior oferta – quer em termos de qualidade, quer em termos de números de camas e de empreendimentos – mas, não foi acompanhado por um aumento de turistas de lazer para satisfazer esse número da oferta," explica.
Por causa do aumento dos preços no turismo de negócios, o de lazer registou queda e alguns empresários estão mesmo a abandonar o setor.
"Mas outro efeito muito forte que também acontece é a evasão de quadros do setor do turismo para ir trabalhar nos outros setores," acrescenta. De acordo com Das Neves, "isso tem um impacto na redução da qualidade dos serviços e no aumento da folha salarial."
Estudo sugere reformas
Estas preocupações levaram os empresários a realizar um estudo a fim de ultrapassar o problema.
O referido estudo apresentado por Miguel Bacca, especialista em turismo, concluiu que se deve melhorar a competitividade e realizar reformas no setor.
"A resposta apropriada para estes desafios é a combinação entre as reformas políticas e as atividades específicas que podem ajudar a aumentar a competitividade," refere.
Segundo Bacca, a expectativa é "suplantar os concorrentes que os tentam imitar ou superar a qualidade dos seus produtos, a produtividade ou os serviços associados a bens ou serviços."
O setor do turismo em Moçambique tem outro desafio a enfrentar. A falta de mão de obra especializada que não está a ajudar na competitividade, diz ainda Miguel Bacca.
"Achamos que o setor, especialmente o turismo de negócios, está a ser afetado pela baixa qualidade de produção da força de trabalho, isto é, a força de trabalho não é produtiva," considera.
O especialista destaca que "as restrições à concorrência representam um custo de oportunidade para as empresas que pode afastar os turistas de Moçambique."
Moçambique está a atrair muitos investidores para os recursos naturais. Aos olhos de João das Neves da CTA, o setor do turismo está a ter algumas atitudes, como "o aumento dos preços dos serviços de turismo, porque há uma maior procura."
"Então, por um lado, o turismo de negócios pode crescer, mas com efeitos nefastos para o turismo de lazer," conclui.
Um recente relatório da Competitividade do Turismo produzido pelo Fórum Económico Mundial coloca Moçambique na posição 125 num conjunto de 140 países, atrás da Tanzânia, Namíbia, Malaui e Zimbábue.