Empresários alemães "namoram" chances de negócio em Angola
22 de julho de 2015Será que os empresários alemães continuam interessados em investir em Angola, apesar da crise do petróleo?
Sentado numa poltrona, ao final da tarde, numa pausa entre as sessões do 6º Fórum Económico Alemão-Angolano, o delegado da indústria alemã em Angola, Ricardo Gerigk, responde que relação entre as empresas alemãs e Angola é como um namoro.
"Falar em investimento pressupõe, no mundo dos negócios, toda uma fase anterior. É um namoro a que se pode seguir o noivado. O casamento é quando se formalizam essas parcerias e os filhos são os frutos," avalia.
Segundo Gerigk, atualmente cerca de 20 empresas alemãs estão presentes em Angola. Há cinco anos, quando o escritório da delegação da economia foi inaugurado no país, eram nove empresas.
"A tendência é que haja mais escritórios de representação, mais parcerias com empresas angolanas e mais empresas alemãs atuando em Angola," considera.
No encontro deste ano participam cerca de 150 pessoas, incluindo 40 empresários alemães e representantes do Governo angolano.
Reúnem-se no Hotel de Convenções de Talatona, a cerca de 10 quilómetros do centro de Luanda - um complexo de cinco estrelas inagurado em 2009, com repuxos de água e um pequeno jardim na dianteira, onde um quarto invidual mais barato custa, ao balcão, 600 dólares por noite.
Oportunidades em tempos de crise
Sentado no centro de conferências do hotel, Ricardo Gerigk prefere não falar em crise do petróleo. Fala antes em oportunidades - para diversificar a economia, por exemplo.
Alguns economistas acusam o Estado angolano de, na última década, se ter encostado demasiado aos lucros do petróleo, investindo pouco em áreas como a agricultura ou a indústria transformadora. Para os empresários alemães, tal como para o Governo angolano, uma das prioridades é apostar no setor da energia.
"Não se pode fazer indústria com geradores. Tem que ser com a eletrificação do país," afirma o embaixador angolano na Alemanha, Alberto Neto, de visita ao Fórum Económico em Luanda.
Alberto Neto acrescenta que há pólos industriais em Luanda, Benguela, Huíla, entre outras províncias, que "começarão a funcionar em pleno, quando houver a electrificação do país e ela for, praticamente, total".
A visita da chanceler alemã Angela Merkel a Angola, em 2011, terá dado o empurrão necessário para que o "namoro" da Alemanha pelo setor da energia passasse a outro patamar, considera Ricardo Gerigk.
"[O Presidente angolano] José Eduardo dos Santos falou no Palácio do Governo que as próximas barragens teriam de ser equipadas com produtos de qualidade, produzidos na Alemanha," relata.
De acordo com o delegado da indústria alemã em Angola, tratou-se de "uma coisa de momento que teve repercussões extremamente positivas. As empresas alemãs de energia conseguiram criar negócios em Angola".
A empresa austríaca Andritz Hydro vai produzir na Alemanha sete turbinas para o maior projecto hidroeléctrico de Angola, a barragem de Laúca.
Romance difícil
Dependendo de cada empresa e área, os namoros estão em diferentes fases, explica Gerigk. Nem todos são fáceis. Angola ainda é um país onde é muito difícil fazer negócios – ficou em 181 num total de 189 países no ranking Doing Business, que avalia o ambiente de negócios. É preciso tempo e paciência, segundo Ricardo Gerigk.
"O primeiro investimento directo é a LSG Sky Chefs, o catering feito em parceria com a TAAG Linhas Aéreas de Angola, que também não foi um namoro muito fácil devido aos constrangimentos e à burocracia de Angola," recorda.
Há necessidade de desburocratizar, "porque isso carrega consigo o fator de combate à corrupção," diz. "A burocracia, não somente em Angola, cria as dificuldades para poder vender as facilidades. Para os amigos tudo, para os inimigos a lei," conclui.
O Fórum Económico Alemão-Angolano continua esta quarta-feira (22.07) e decorre em paralelo com a Feira Internacional de Luanda (FILDA), onde a Alemanha é, este ano, o país convidado especial.