"Generalidade dos angolanos terá um Natal bastante difícil"
23 de dezembro de 2022Apesar da subida dos preços, o movimento em Luanda é frenético em vésperas de Natal. Muitos cidadãos estão a sair de diferentes pontos do país para passar a consoada e o dia de Ano Novo na capital angolana.
Nos mercados informais e nas grandes superfícies comerciais fazem-se compras para garantir comida na mesa. Mas nem todos têm esse privilégio.
"Neste momento ainda não tenho dinheiro para comprar a cesta básica. Estou aqui ainda a lutar para ver se consigo alguma coisa para dar aos filhos", admite Francisca Silva à DW África.
Para os filhos menores, esta cidadã de Luanda pede o 'mínimo': um bolo, por exemplo. "O que eu conseguir. Se conseguir pelo menos dois quilos de farinha de trigo para fazer um bolo para as minhas crianças já é suficiente", refere.
Segundo o analista e jornalista angolano Ilídio Manuel, este não é um caso isolado. "A generalidade dos angolanos terá um Natal bastante difícil como reflexo da situação económica e financeira que o país está a viver", adverte.
"A maioria não terá acesso aos bens essenciais para ter uma quadra festiva digna deste nome", lamenta.
Entrega de cabazes
Algumas empresas públicas e privadas tentam atenuar as dificuldades dos angolanos com a entrega de cabazes alimentares aos trabalhadores, diz o analista.
"É justamente nessa altura em que se nota que determinados organismos gastam fortunas na obtenção de cabazes, enquanto outros não conseguem obter o mínimo para agradar aos seus trabalhadores", comenta Manuel.
A taxa de inflação em Angola continua estável, mas elevada — 19,8%. Porém, o preço dos bens e serviços essenciais continua a subir desde as eleições de 24 de agosto deste ano.
Ana Manuel, uma moradora da capital angolana, desabafa: "Eu acho que as coisas subiram muito. Antes ainda do mês de dezembro, as coisas já começaram a subir. Eu não sei porquê. Todos os anos funciona assim", critica.
Ilídio Manuel explica que o preço da cesta básica tinha baixado apenas para ser garantido o voto no partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) do Presidente João Lourenço.
O jornalista acrescenta que em janeiro a situação poderá piorar. "Nós tivemos um período pré-eleitoral em que, numa perspetiva de se conquistar o eleitorado, foi-se piscando o olho com a redução dos preços [dos bens] essenciais", recorda.
"Naturalmente, a subida dos preços agravou o nível de vida das pessoas e tudo aponta para que a crise seja maior em janeiro, que é tido como o mês mais longo do ano, em que as pessoas vão ter muitas dificuldades sobretudo na aquisição da cesta básica", disse Manuel.