Governo da RDC descarta anulação de resultados eleitorais
29 de dezembro de 2023O ministro da Comunicação e porta-voz do Governo da República Democrática do Congo (RDC), Patrick Muyaya, afirma que "a ideia é que todos estejam conscientes da sensibilidade deste processo". Muyaya sublinha que as eleições "são um processo complexo, que afeta mais de 44 milhões de eleitores e mais de 100.000 candidatos num país que quer consolidar a sua democracia".
"Todos devemos assegurar que, a partir das nossas posições, atuamos e dizemos coisas que servem para consolidar a democracia", afirmou, antes de criticar a oposição por "se preparar para rejeitar as eleições" desde o início da votação.
"É um problema de coerência, uma vez que eles participaram", argumentou, insistindo que "o 'fair play' exige que os adversários participem no jogo até ao fim e que, se quiserem recorrer, o façam pelas vias legais".
Muyaya referiu-se à convocação de manifestações por vários candidatos, incluindo uma passada na quarta-feira na capital, Kinshasa, que não foi autorizada pelo governo e levou a confrontos que resultaram em, pelo menos, uma dúzia de feridos.
"Vamos garantir que a segurança e a ordem pública sejam mantidas", afirmou Muyaya, citado pela estação Radio France Internationale.
Irregularidades
O porta-voz do Governo congolês reconheceu "dificuldades" durante o dia de votação, incluindo atrasos na abertura das assembleias de voto e problemas com as máquinas de voto, mas observou que deve ser tida em conta "a grande mobilização dos eleitores congoleses, que esperaram dez e doze horas sem se impacientarem ou praticarem atos de violência ou revolta".
Já a missão de observação eleitoral da Conferência Nacional Episcopal do Congo (CENCO) e da Igreja de Cristo no Congo (ECC) declarou esta quinta-feira (28.12) que a votação foi marcada por "numerosas irregularidades suscetíveis de afetar a integridade dos resultados em vários dos escrutínios", sublinhando que "um dos candidatos se distanciou dos restantes, com mais de metade dos votos a seu favor", numa aparente referência ao presidente, Félix Tshisekedi.
De acordo com os números provisórios da comissão eleitoral, Tshisekedi está na liderança com quase 79% dos votos, com o candidato da oposição Moïse Katumbi em segundo lugar com 14,27% dos votos. Martin Fayulu segue em terceiro lugar com 4,23% dos votos contabilizados até agora.
Reclamações continuam
Os dois opositores denunciaram ambos numerosas irregularidades durante a votação, que teve de ser prolongada por dois dias devido a atrasos na abertura das assembleias de voto, algumas das quais foram atacadas.
As quatro eleições que decorreram em simultâneo tinham 43,8 milhões de eleitores registados para elegerem o presidente, o Parlamento e os representantes nas assembleias regionais e conselhos locais.
Tshisekedi, filho do histórico líder da oposição Étienne Tshisekedi, falecido em 2017, está a concorrer a um segundo mandato contra um total de 21 candidatos, depois de uma campanha eleitoral marcada pela desconfiança sobre o papel da comissão eleitoral e por episódios de violência durante vários eventos de campanha dos opositores mais proeminentes.
As eleições realizam-se ignorando os apelos de alguns opositores que reclamaram o seu adiamento, devido a manifestos atrasos no processo eleitoral assim como ao recrudescimento da insegurança no leste do país, onde atuam centenas de grupos armados.