Bissau: "É lamentável vir ao hospital e não ser atendido"
26 de outubro de 2021É uma guerra aberta há cerca de dez meses, entre o Governo e a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG). Desde janeiro deste ano, a central sindical tem convocado sucessivas greves, inclusive no setor de saúde.
Os funcionários exigem o pagamento de salários em atraso e melhores condições de trabalho, entre outros pontos. Os hospitais públicos então quase desertos.
"O impacto [da greve] é bem notório. Acho que os sindicatos e o Governo têm que tomar em conta o sofrimento do povo", apela um doente em declarações à DW África.
Outro paciente no Hospital Nacional Simão Mendes também lamenta a situação: "Vim cá consultar, mas praticamente não encontrei ninguém e ninguém me recebeu. É lamentável vir ao hospital e não ser atendido."
Requisição civil
A situação no setor da saúde agravou-se na passada sexta-feira (22.10), quando dois líderes sindicais foram detidos. Yoio João Correia e João Domingos da Silva são acusados de cumplicidade no boicote dos técnicos de saúde aos serviços hospitalares, no mês passado.
Mesmo despois da libertação dos sindicalistas, na segunda-feira (25.10), os técnicos de saúde continuam em greve.
O hospital militar de Bissau, que não adere à paralisação, tem servido de refúgio para vários doentes incapazes de suportar as despesas das clínicas privadas.
O Governo aprovou, entretanto, em Conselho de Ministros a requisição civil para fazer face à ausência dos técnicos nos hospitais e centros de saúde do país. O Executivo diz que vai ativar a brigada médica cubana que opera na Guiné-Bissau e chamar ao serviço técnicos reformados.
O jurista Luís Vaz Martins entende que a requisição civil é legal. Mas "as dúvidas que se colocam são do ponto de vista da exequibilidade da própria decisão", refere à DW África.
"Se os profissionais de saúde reformados atenderem à chamada, a minha grande dúvida é, sendo o Governo um interlocutor incumpridor, até que ponto eles irão ser compensados financeiramente pelos serviços prestados. E a equipa médica cubana não estará em número suficiente para atender às necessidades. Aliás, todo o mundo sabe que é mais uma falácia", considera Vaz Martins.
Na segunda-feira, dezenas de forças policiais bloquearam, por várias horas, a entrada e saída dos sindicalistas na sede da UNTG. A situação foi resolvida, mas o secretário-geral da central sindical, Júlio Mendonça, que se encontra no estrangeiro e está prestes a regressar ao país, não tem dúvidas que a intenção das autoridades "era recuperar as chaves e bloquear a sede, para não permitir que ninguém tenha acesso a ela".