Juventude africana: Um barril de pólvora?
4 de dezembro de 2017"Não me sinto representado por ninguém. Os nossos líderes não estão interessados nas nossas reivindicações". A afirmação é de Emmanuel Ntobi da Tanzânia, que disse à DW que muitos jovens estão desempregados e têm problemas em pagar dívidas ou financiar uma formação. "Não temos dinheiro para abrir um pequeno comércio para melhorarmos um pouco as condições de vida", lamenta.
Nas plataformas de social media da DW há um debate aceso sobre o futuro dos jovens em África. A maioria diz que não se sente representada pelos governos. Muitas vezes os presidentes têm a idade dos seus avôs.
"Quando olho para os nossos governantes claro que penso que não nos representam como deviam", diz Rama Athumani, da Tanzânia. "Obviamente que nos instrumentalizam em períodos eleitorais, mas depois do voto esquecem-se completamente de nós".
A jovem sudanesa Meseret diz que só tem uma opção: emigrar de um país que não permite aos jovens dizer o que pensam. "Se os jovens saírem às ruas para protestar, serão presos ou chacinados", afirma. "Não há paz nem justiça. É por isso que a juventude não está em posição para contribuir para o desenvolvimento do país", disse ainda Meseret à DW.
Frustração crescente
Em todo o continente africano cresce a frustração dos jovens pela escassez de oportunidades económicas, a corrupção endémica, a subida do desemprego e a falta de participação política.
Frustrados, muitos optam por emigrar. O que implica uma viagem muito perigosa, que inclui travessias do deserto e do Mediterrâneo. Os jovens arriscam a vida na tentativa de refazer a vida na Europa. É uma viagem que começa sempre com esperança mas muitas vezes termina no desespero.
Entre janeiro e novembro de 2017, cerca de 160.000 africanos entraram na Europa pela rota mediterrânica, segundo estimativas da Organização Internacional da Migração (OIM). Mais de 3.000 morreram na travessia.
Desde a tragédia de outubro de 2013 ao largo da ilha italiana de Lampedusa, quando morreram 360 pessoas, a travessia custou a vida a mais e 15.000 pessoas, segundo a OIM.
Presidentes idosos que se agarram ao poder?
Muitos dos que partiram estão agora encalhados na Líbia. Na recente cimeira entre a União Europeia (UE) e a União Africana (UA) na Costa do Marfim, Marrocos prometeu fornecer aviões para repatriar aqueles que desejam regressar a casa.
Numa entrevista à DW antes da cimeira, o Presidente da UA, Alpha Condé, salientou que os países africanos têm que investir em boa governação e na juventude, para melhorar a vida das pessoas. O chefe de Estado de 79 anos acrescentou que a juventude africana é um barril de pólvora que poderá explodir caso os seus problemas não sejam resolvidos adequadamente.
Mas Condé, que é Presidente da Guiné-Conacri, não concorda que ele próprio deva retirar-se do poder por causa da sua idade avançada.
"O problema não é a idade. É mais importante saber o que é que tem que ser feito para os jovens. Pode-se ter 30 anos e não fazer nada pela juventude. E pode-se ter 90 anos e fazer muito pelos jovens. Parece-me que esse debate está a enveredar pelo caminho errado".
Não é uma opinião partilhada por muitos jovens. A camaronesa Cyrille Tamatcho defende que todos os políticos com mais de 70 anos devem passar à reforma.
"Será que Condé está a fazer alguma coisa extraordinária pela juventude? Há muita gente na Guiné e em África com menos de 50 anos que é competente e suficientemente ambiciosa para resolver os desafios que a juventude enfrenta", disse Cyrille à DW.
Boubacar Signate, do Senegal, diz que é a favor de um limite de idade para impedir que os políticos se perpetuem no poder. "Também podíamos perguntar: será que sabem colocar um cartão SIM de 4G num telemóvel? A juventude africana e os seus presidentes não operam nos mesmos sistemas. Já não há atualização para eles. "Sugiro a introdução de um limite de idade também os governantes".
Em todo o continente os jovens parecem estar de acordo num ponto: os seus líderes não assumem a responsabilidade pelas suas ações. "Temos provas", disse à DW Richard Yehouenou, do Benim. "Há corrupção e ladroagem. Escondem as riquezas roubadas na Europa. Fazem acordos desonestos com o Ocidente. Quando adoecem tratam-se em hospitais noutros continentes. Os filhos frequentam escolas ocidentais e roubam os nossos recursos. É a desonestidade total", critica.
Os jovens devem agir
Mas também há jovens que insistem na própria responsabilidade em mudar as coisas. "Constato que a maioria dos jovens não se esforça o suficiente para alcançar posições de topo", disse à DW o tanzaniano Mimwani Keneth. "Não participam em conferências que debatem os seus problemas", acrescentou.
Mas a verdade é que há muitos que não têm a preparação suficiente para levantar a voz e envolver-se ativamente. "50% dos alunos na África do Sul não entram no ensino secundário. O que representa meio milhão de jovens por ano sem hipótese de encontrar emprego", disse Alex Smith da Ikamva Youth, uma organização juvenil sul-africana, que apoia e treina jovens empresários que são também ativistas.
Os jovens sentem-se impotentes por causa da falta de educação e transparência política, acrescentou Smith. Muitos têm dificuldades em sobreviver, quanto mais encontrar forças para uma maior participação política: "Quem tem que lutar para encontrar o que comer não tem tempo para marchas de protesto".