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Lavrov busca apoio de Angola "para a política externa russa"

24 de janeiro de 2023

Em entrevista à DW, o jornalista José Milhazes afirma que visita de Serguei Lavrov a Luanda é uma forma da Rússia tentar ganhar aliados, numa altura em que está cada vez mais isolada no campo internacional.

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Chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, e Presidente angolano, João Lourenço
Foto: imago/ITAR-TASS/A. Shcherbak

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo Serguei Lavrov chegou a Angola, esta terça-feira (24.01), para uma visita de dois dias. Anteriormente, Serguei Lavrov esteve na África do Sul, que reforçou a proximidade com Moscovo ao declarar-se "amiga" da Rússia, e no Eswatini, onde se comprometeu a melhorar a cooperação entre os dois países na área da segurança.

Poucos dias após o assassinato de um advogado de direitos humanos e político da oposição neste país, o chefe da diplomacia russa prometeu formação nesta área e ressaltou que o bloco das economias emergentes BRICS, de que fazem parte a Rússia e a África do Sul, "não tem planos de se isolar, mas que precisa de proteger os seus interesses dos mecanismos que foram criados pelo Ocidente".

Em Angola, Serguei Lavrov deverá encontrar-se, na quarta-feira, com o seu homólogo Téte António, seguindo depois para uma audiência com o Presidente angolano João Lourenço.

Numa altura em que Angola se aproxima dos Estados Unidos da América e da União Europeia, o jornalista e historiador José Milhazes não tem dúvidas de que o principal objetivo da visita do representante russo ao continente africano é arranjar aliados contra o Ocidente. Questionado sobre o que terá Angola a dar a Moscovo, José Milhazes responde: "Basta o voto de Angola nas Nações Unidas".

DW África: Como olha para a visita de Serguei Lavrov a Angola?

José Milhazes (JM): O principal objetivo é ganhar os países africanos para a causa russa, ou seja, fazer com que os países africanos participem numa frente anti-ocidental em nome do chamado multipolarismo. A Rússia, neste momento, está extremamente isolada no campo internacional e então qualquer aliado é importante.

José Milhazes Historiker und Journalist Portugal
José MilhazesFoto: DW/J.Carlos

DW África: Não vê então interesse concretamente no reforço das relações bilaterais entre os dois países ...

JM: Claro que isso é o chamado discurso oficial, mas, na realidade, todos nós sabemos que o objetivo é inclinar Angola a apoiar a política externa russa. Angola não apoia a ação das tropas russas na Ucrânia, e a função de Lavrov é trazer esses dirigentes africanos para o seu lado. Claro que uma das formas será certamente através de promessas que Lavrov irá fazer no campo da cooperação bilateral.

DW África: Em dezembro, à margem da cimeira EUA-África, João Lourenço deixou claro que o país tem interesse em estreitar a cooperação com os EUA, admitindo até existir uma "mudança de jogo". Terá soado como uma ameaça para a Rússia, tendo em conta o passado histórico com Angola?

JM: Claro. A Rússia, neste momento, receia perder qualquer aliado e, tendo em conta as relações tradicionais entre Rússia e Angola, para a Rússia será mais uma perda. E nós, neste momento, estamos a ver não só a guerra com armas na Ucrânia, mas também uma guerra a nível mundial que visa tentar ganhar adeptos para um lado ou outro.

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Lavrov chega a Angola depois de uma visita à África do Sul, que reforçou a proximidade com Moscovo Foto: Phill Magakoe/AFP

DW África: Em relação a Angola, que interesses tem a Rússia? Em que medida Angola pode ser um bom aliado?

JM: Basta o voto de Angola nas Nações Unidas. A Rússia anda a tentar ganhar votos de apoio. A Rússia não quer que Angola passe para a chamada esfera ocidental, até porque também tem interesses económicos em Angola.

DW África: Em 2019, quando João Lourenço esteve em Moscovo sublinhou a importância do apoio da Rússia na diversificação da economia angolana. De que forma Angola beneficia dessa relação bilateral?

JM: Tem os diamantes, por exemplo, onde há empresas russas interessadas, e eu penso que aqui a política certa é defender os seus interesses no meio desta luta, ser realista e tentar ganhar o mais possível no meio destas contradições internacionais. Porque, como nós sabemos, nas relações internacionais não há amigos, há interesses. E Angola tem que lutar pelos seus interesses.

DW África: Nesse sentido, Angola quer "agradar a gregos e a troianos", com uma posição cada vez mais pró-Ocidente, mas, ao mesmo tempo, sem esquecer a Rússia?

JM: Aqui poderá ser cooperar com a parte que mais interesse tem para Angola. Nestas relações, Angola deve tentar aproveitar para tirar mais dividendos. Agora há coisas que Angola terá que se definir. Tanto a Rússia, como o Ocidente, exigem dos vários países que sejam claros relativamente à sua posição no que respeita à invasão da Ucrânia pelos russos.

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