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Médicos denunciam ameaças a grevistas em Moçambique

Lusa
8 de dezembro de 2022

Associação Médica de Moçambique (AMM) denuncia que vários profissionais de saúde estão a receber "ameaças" de superiores, que visam "bloquear" a adesão à greve nacional de médicos de 21 dias, iniciada segunda-feira.

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Foto: Imago/UIG/P. Deloche Godong

"A cada cinco minutos recebemos denúncias de ameaças sofridas por médicos de todo o país", disse esta quinta-feira (08.12) o presidente da AMM, Milton Tatia, à agência de notícias Lusa.

Segundo o responsável, quatro dias após o início da paralisação que contesta a nova Tabela Salarial Única (TSU), os médicos moçambicanos têm recebido "ameaças de sanções, processos disciplinares, rescisão de contrato e demissões".

"Todos os hospitais do país estão a marcar faltas numa tentativa de intimidação para que os nossos colegas não participem na greve", disse Milton Tatia, lamentando o facto de o "Governo moçambicano usar médicos que ocupam cargos de direção e chefia para promover a campanha de intimidações", além de outras autoridades locais.

Angola Streik Krankenhaus
Grevistas defendem o direito constitucional à greveFoto: DW/P. Borralha Ndomba

"Bloqueio do exercício do direito à greve"

Para os médicos, as ameaças constituem um "bloqueio do exercício do direito à greve", referindo tratar-se de uma "forma de agir do Governo".

"Já foi assim no passado, em 2013 [numa das greves dos médicos], e sabíamos que seria assim novamente", lamentou o responsável.

Os dados sobre a adesão são contraditórios: autoridades e hospitais dizem que não há sobressaltos, apesar de alguns profissionais terem aderido à greve, mas a AMM diz que em algumas áreas a paralisação chega a 80%.

A Lusa tentou obter uma reação do Ministério da Saúde às denúncias de intimidação, mas sem resposta.

Descontos nos salários dos grevistas

O ministro da Saúde de Moçambique, Armindo Tiago, admitiu hoje virem a ser feitos descontos nos salários para médicos que têm faltado ao trabalho.

Faltam médicos e medicamentos nos hospitais da Beira

"Neste momento de perturbação, temos alguns colegas que não estão a ir aos hospitais. Nós vamos aplicar as normas, vamos aplicar a lei e esta estabelece que quem não vai trabalhar tem falta e a falta tem implicações em termos salariais", disse o ministro à comunicação social, na Zambézia.

Já o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu hoje que os médicos se pautem pelo diálogo e que "não deixem o povo morrer".

"Direito fundamental"

A Rede Moçambicana dos Defensores de Direitos Humanos (RMDDH) condenou hoje, em comunicado, "qualquer ação de caça às bruxas, contra os médicos", destacando que "a greve é um direito fundamental".

Apesar das ameaças, a AMM referiu que está "firme e forte" no seu propósito, acrescentando que a atitude do Governo demonstra que "não quer encontrar soluções" para as reivindicações.

"Estamos no quarto dia de greve e até hoje ainda não houve nenhuma intenção de diálogo", concluiu Milton Tatia.

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