Mali combate extremistas sozinho após retirada da França
21 de dezembro de 2021Os soldados franceses marcaram presença no norte do Mali durante a última década, depois de terem ajudado a manter os extremistas afastados do poder numa intervenção militar, em 2013.
"A retirada francesa é em grande parte uma manifestação de sentimentos anti-franceses generalizados entre a população local. A presença das tropas deste país, em vez de ajudar, acabou por agravar a situação", disse à DW a partir de Acra, no Gana, o perito em contraterrorismo Mutaru Mumuni Muqthar.
Nem mesmo estas tropas estrangeiras foram capazes de dissuadir os jihadistas de continuarem os seus ataques no Sahel, uma região que se estende entre o Mali, o Níger e o Burkina Faso.
Nove anos de presença francesa
Segundo o analista, ao longo destes últimos nove anos, a presença francesa no Mali piorou a situação de segurança no país, deixando-o agora num estado precário, por isso "a população local maliana não está satisfeita com a presença francesa", diz Mutaru Mumuni Muqthar.
Também cidadãos malianos ouvidos pela DW expressaram este sentimento. "Não sei porque as tropas francesas estão lá. Diz-se que é uma questão de segurança. Mas porquê tanto tempo?"
O Presidente francês Emmanuel Macron anunciou em julho que, até 2022, a França tencionava encerrar todas as suas bases militares no Mali.
Mas existem receios acerca da capacidade dos militares malianos de levar a cabo a missão e afastar os extremistas, que se reagruparam e expandiram o seu alcance ainda mais para sul, desde que foram expulsos na ofensiva de 2013.
Mesmo assim, há quem veja a saída das tropas francesas como uma oportunidade. "Eu acredito que é uma chance para os militares malianos mostrarem a sua força", explica outro cidadão..
Mercenários russos destacados?
Porém, tanto Paris como Washington manifestaram preocupação com a possibilidade de mercenários russos serem destacados para o Mali para preencher o vazio deixado pelas saída das tropas francesas.
Na semana passada, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que o Grupo russo Wagner receberia 10 milhões de dólares por mês para o potencial destacamento. Mas que não trariam paz ao Mali, "pois são forças conhecidas pelas suas atividades desestabilizadoras e violações dos direitos humanos."
É verdade, porém, que os problemas do Mali, que vive uma transição política após o golpe militar do ano passado, vão além da luta contra os extremistas.
A CEDEAO impôs sanções ao país africano e aos seus líderes militares, que afirmaram não poder cumprir o calendário de realização de eleições previstas para 27 de fevereiro de 2022. E o não cumprimento deste prazo poderá trazer mais sanções, com a CEDEAO a recusar-se a aceitar os atrasos do Governo de transição.