Maputo: "Estratégia de Venâncio Mondlane não cola"
11 de dezembro de 2023Na última sexta-feira, Venâncio Mondlane, o candidato da RENAMO pela cidade de Maputo, desafiou a população a paralisar o comércio e outras atividades económicas em protesto contra os resultados oficiais das eleições autárquicas, que dão a vitória à FRELIMO na capital.
Mas a iniciativa não teve o apoio esperado. Hoje foi um dia normal em Maputo: O comércio continuou aberto e as instituições funcionaram sem interrupções, em ambiente de tranquilidade. Só a chuva na capital dificultou um pouco os afazeres dos residentes.
O boicote à paralisação já era previsível, afirma o professor universitário Hilário Chacate. "Coincidiu com uma temperatura não favorável, mas também há outros fatores que estão por detrás deste insucesso: As pessoas vão se cansando e também há uma perceção de que já foram esgotados todos os mecanismos a que se devia ter recorrido para garantir a almejada justiça eleitoral."
Mondlane é "mal assessorado"?
Este entendimento é partilhado pelo analista político Ernesto Júnior, que lembra o contexto económico de muitas famílias da cidade de Maputo.
"Nós temos de perceber que tipo de população temos aqui. São pais de família que dependem muito do seu trabalho informal. Para garantir a refeição do dia seguinte é necessário trabalhar no dia anterior."
Sendo assim, Ernesto Júnior aconselha o político da RENAMO a rever a sua estratégia: "Esta estratégia de Venâncio Mondlane parece que já não está a servir ou a colar no seio do seu eleitorado", comenta.
O analista Hilário Chacate nota que Venâncio Mondlane age ao arrepio de outros colegas do partido, que parecem querer virar a página das autárquicas. "Ele não deve estar a conseguir ler muito bem o cenário, deve estar a ser mal assessorado. E há uma perceção de que existe um desalinhamento dentro da própria RENAMO", indica Chacate.
O maior partido da oposição apresentou, entretanto, queixa-crime contra os responsáveis dos órgãos eleitorais moçambicanos, por suposta "falsificação e manipulação de resultados". Processou também os juízes do Conselho Constitucional, que "certificou" os resultados das eleições.
Ivan Maússe, pesquisador do Centro de Integridade Publica, reitera, no entanto, que "Venâncio Mondlane tem de compreender que o processo já terminou". Resta agora "fazer o trabalho de casa", afirma Maússe, para que, nos próximos processos eleitorais, "a RENAMO se sinta vitoriosa".
Moçambique vai novamente às urnas em outubro do próximo ano, em eleições gerais.