Militantes da FNLA contra a liderança de Lucas Ngonda
18 de agosto de 2018A contestação que exige a renúncia de Lucas Ngonda foi evidenciada este sábado, nas ruas da capital angolana, com a marcha de dezenas de militantes da FNLA. A manifestação decorreu do Largo do Soweto até a travessa António Manuel de Noronha, onde está a sede da presidência do partido.
A marcha contou com a participação de militantes oriundos de vários pontos do país. A sede da direção do partido estava encerrada durante os protestos. E, o presidente da FNLA não apareceu no local para dialogar com os militantes.
Em declarações à DW África, a porta-voz dos militantes, Lucinda Roberto, afirmou que o "objetivo da manifestação é exigir a renúncia do senhor Lucas Ngonda da presidência da FNLA. Os militantes da FNLA não querem mais o Lucas Ngonda. Não vale a pena ele insistir", disse Lucinda Roberto.
Lucas Ngonda é acusado de não querer unir o partido e de levar a formação política à beira da extinção. Outra crítica dos militantes é a má gestão dos fundos da FNLA.
A porta-voz dos militantes afirma que "a maior preocupação é que o presidente da FNLA não aceita dialogar com os militantes". Ainda de acordo com Lucinda Roberto, "o presidente não aceita reunificar o partido".
Ela lembra que, "em 1992, com o presidente Holden Roberto a FNLA teve cinco deputados. Em 2008 teve três. O senhor Lucas Ngonda participou em duas eleições. 2012 tivemos dois deputados e nas eleições de 2017 tivemos um deputado". "Agora", completa Lucinda Roberto, "pergunto ao senhor Lucas Ngonda, em 2022 a FNLA terá quantos deputados?", questionou a militante.
Um novo líder
"Lucas Ngonda não vai matar a FNLA" foi uma das palavras de ordem do protesto. Com a destituição do presidente do partido que participou na luta contra o colonialismo em Angola, os militantes pretendem criar uma comissão de gestão que vai preparar o congresso que poderá eleger o novo líder e dar mais espaço para a participação da juventude.
"Vamos destituir o presidente Lucas Ngonda e iremos criar uma direção de transição que posteriormente vai trabalhar para um congresso amplo e inclusivo para todo militante da FNLA", garantiu Lucinda Roberto, que promete que os protestos vão continuar até a renúncia do atual líder.
O grupo pretendia realizar uma vigília, mas as autoridades não permitiram. A decisão deixou os manifestantes descontentes. "No mês passado pedimos ao Governo uma marcha seguida de uma manifestação e não nos permitiram manifestar. Não estamos a perceber porque que não permitem os militantes da FNLA exercerem os seus direitos. Não estamos a manifestar contra as instituições do Estado, mas contra o presidente da FNLA porque foram os militantes os militantes que lhe elegeram".
Recentemente um grupo do Comité Central do partido organizou um congresso que elegeu o docente universitário Pedro Gomes como o novo líder. No mesmo mês, em junho, o atual presidente também realizou outro congresso extraordinário que serviu para expulsar alguns membros do Comité Central e do Bureau Político, entre os quais, Pedro Gomes e o antigo porta-voz da FNLA Ndonda Nzinga.
Entretanto, fruto das denúncias de má gestão dos fundos do partido, a Procuradoria-Geral da República (PGR), através da Direção Nacional de Investigação e Ação Penal (DNIAP), está a interrogar Lucas Ngonda. O resultado será conhecido dentro de dois meses segundo uma fonte da PGR.