"Perdemos o nosso corajoso líder"
18 de março de 2021O Governo da Tanzânia divulgou que o Presidente John Magufuli morreu esta quarta-feira (17.08), aos 61 anos, no hospital de Mzena, em Dar es Salaam, onde estava internado devido a complicações ocasionadas por uma doença cardíaca. "Perdemos o nosso corajoso líder", disse a vice-presidente Samia Suluhu Hassan na emissora estatal TBC.
O Presidente não aparecia em público desde 27 de fevereiro. Magufuli foi o primeiro Presidente da Tanzânia a morrer durante o mandato.
Nascido a 29 de outubro de 1959, estudou na Universidade de Dar es Salaam, onde obteve diploma em Química, Matemática e Educação. Mais tarde, concluiu mestrado e doutoramento em Química.
Depois de uma breve experiência com docente e trabalhador de uma empresa farmacêutica, Magufuli entrou na política como membro do partido no poder, Chama Cha Mapinduzi (CCM).
Foi eleito deputado em 1995 e ocupou cargos ministeriais em pastas como Pescas e Obras Públicas. Em 2010, como ministro dos Transportes e Obras da Tanzânia, declarou guerra à corrupção na indústria da construção de estradas. A iniciativa cativou os tanzanianos, que lhe deram a alcunha de "Bulldozer".
Popular em África
O analista Martin Adati lembra que Magufuli surgiu com a ideologia de combate à corrupção e de capacitação das massas. "As pessoas que têm beneficiado da corrupção e de todas estas outras coisas negativas é que não estão muito contentes com ele", opina Adati.
A fama conquistada pela bandeira anticorrupção de Magufuli um político popular no continente. Tornou-se Presidente eleito pela primeira vez em 2015, com 58% da preferência dos eleitores. Sua reeleição em 2020 foi contestada pelo candidato da oposição Tundu Lissu, que alegou fraudes no pleito.
Medidas como redução de custos no Governo, expansão da educação gratuita, desenvolvimento rural e construção de novos caminhos de ferro deram a Magufuli o respeito dos cidadãos.
Pressão sob a oposição da Tanzânia
Apesar de ser uma figura popular, no estrangeiro a imagem de Magufuli foi manchada por críticas de organizações de direitos humanos, que lhe apontaram o dedo por violações do direito à liberdade de expressão e de imprensa.
Para o líder da oposição exilado, Tundu Lissu, o Governo de Magufuli merece ser criticado especialmente pelo seu cunho ditatorial. "Ele conseguiu todas essas coisas, mas isso não justifica a má governação, não lhe permite dirigir uma ditadura com as leis autoritárias que impôs ao país", salienta Lissu.
Desde que chegou ao poder, Lissu foi preso pelo menos seis vezes. O seu governo proibiu, qualquer comício político da oposição na última campanha eleitoral.
"Líder dos pobres"
Os apoiantes do presidente lamentaram a sua morte e a perspectiva política incerta para o país. "Entristeceu-me pessoalmente. Perdi a esperança porque confiei nele como meu líder, ele era um líder dos pobres e agora perguntamo-nos como serão as coisas depois que o nosso líder morreu", disse o apoiante Lewis, de 24 anos, em Dar es Salaam.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson usou o Twitter para dizer que "lamentava a morte" da morte de Magufuli. O Departamento de Estado dos Estados Unidos manifestou as suas condolências e acrescentou: "Esperamos que a Tanzânia possa avançar por um caminho democrático e próspero".
Magufuli tornou-se um dos mais proeminentes cépticos sobre o coronavírus em África e e será sempre lembrado como o homem que desacreditou a existência da Covid-19 no seu país. Desde que a pandemia foi declarada em março de 2020, Magufuli ignorou repetidamente a gravidade do vírus e rejeitou a vacinação.
O Presidente negava a existência da Covid-19, afirmando que Deus havia poupado a Tanzânia desta doença. "Nós tanzanianos não nos fechámos e não espero nunca anunciar qualquer confinamento porque o nosso Deus ainda está vivo e continuará a proteger-nos".
Durante meses, a Tanzânia negou a necessidade de medidas de prevenção, como o uso de máscaras ou o confinamento. O país deixou mesmo de partilhar os números oficiais relativos à doença em maio de 2020, altura em que registava 509 casos positivos e 29 mortes.
Em fevereiro deste ano, após a morte do vice-presidente de Zanzibar, Seif Sharif Hamad, por Covid-19, Magufuli e a maioria dos tanzanianos começaram a acreditar no risco de contrair o vírus. Nesta altura, o Ministério da Saúde emitiu um comunicado instando o povo a tomar medidas de prevenção.