Zambézia: Pesquisa de recursos minerais pode gerar conflitos
2 de junho de 2018Está instalado um braço-de-ferro na região de Maquival, na província moçambicana da Zambézia, no centro do país. Centenas de populares dizem que preferem morrer a sair das suas terras para que se façam trabalhos de prospecção para extrair areias pesadas.
Alberto Tomé Jafar é o régulo comunitário da localidade de Magologodho e diz que "a população está a rejeitar mesmo". "Fui reunir com os moradores da zona de Marrabo e disseram que vale mais o Governo matar-nos para ficar a implementar os seus projetos sem incómodo, não vamos sair dessa para a outra zona por causa das machambas e coqueiros que plantaram para seus filhos e netos", garante Jafar.
"É preciso discutir o desenvolvimento"
Um dos problemas é que, até aqui, a população não tem visto benefícios, segundo Bonde Paulo, o presidente de um centro de estudos em Quelimane, que avalia o impacto das pesquisas de recursos minerais.
"Quando a gente faz uma comparação com o desenvolvimento de outras províncias do país, temos tantos recursos, temos tanto capital humano, temos um alto nível da população, somos a segunda província mais populosa, mas o nosso desenvolvimento em diversas áreas está aquém daqueles", considera Bonde Paulo, que aponta para a necessidade de "reunir empresários, magistrados, académicos para discutirmos o desenvolvimento da nossa província".
Os residentes da região de Maquival não são os únicos a protestar. Outras comunidades na província também se têm manifestado contra projetos relacionados com a extração de recursos naturais.
A pressão da população foi tanta para travar o projeto, que as autoridades locais cederam e paralisaram as atividades, de acordo com o administrador de Quelimane, Carlos Carneiro, referindo-se ao projeto ferro-portuário de Macuse. O administrador disse que não há previsão para a retoma deste projeto e explicou que "como houve muita rejeição por parte da população, paralisámos todas as consultas públicas, porque não estavam a dar efeito".
"Fator de conflito"
Mas é preciso fazer mais, segundo o docente universitário Cassimo Jamal. Ele teme que, se o Governo não tomar mais medidas e não entrar em consenso com a população, os protestos podem degenerar em violência.
"Sempre que nós registamos recursos naturais ou minerais temos também automaticamente conflitos. Se for a avaliar e verificar o mapa de África, em todos locais onde existem recursos minerais também é onde existe mais conflitos, o que leva a entender que a existência de recursos minerais em África é um dos fatores de conflitos. E nós aqui em Moçambique devemos esperar isso. Aliás, eu acredito que o conflito em Mocímboa da Praia tem uma ligação intrínseca com existência de recursos minerais na bacia de Rovuma, este é o princípio".
O régulo Tomé Alberto pede ao Governo que proteja a população. "Governo Deve nos proteger, porque se nos deixarmos as nossas Zonas de origem estamos muitíssimo prejudicado".