Nampula: "Polícia disparou contra cidadãos indefesos"
27 de outubro de 2023À semelhança do que aconteceu na cidade de Maputo, também a cidade de Nampula acordou agitada, esta sexta-feira (27.10).
A Polícia da República de Moçambique (PRM) disparou, esta manhã, gás lacrimogéneo e balas reais para tentar dispersar aglomerados de jovens que saíram às ruas para contestar os resultados das sextas eleições autárquicas de Moçambique divulgados, na quinta-feira, pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e que dão a vitória ao partido FRELIMO naquela cidade.
Em entrevista à DW, o jornalista Aunício da Silva conta que, em alguns bairros de Nampula, a população montou barricadas e está a incendiar pneus. Segundo ele, Nampula está "numa situação de escaramuças, de conflitos pós-eleitorais jamais vistos na sua história".
Na sua conta no X (antigo Twitter), o especialista em política internacional Wilker Dias partilhou, esta manhã, um vídeo dos protestos, dizendo que a "situação em Nampula continua tensa". O investigador e jornalista Alexandre Nhampossa também alertou para a situação na cidade.
Aunício da Silva disse à DW que, até ao princípio da tarde desta sexta-feira, deram já entrada nos serviços de urgência do Hospital Central de Nampula pelo menos oito pessoas feridas, entre as quais um agente da polícia.
DW África: Qual a situação na cidade de Nampula? Confirma a ocorrência de tumultos?
Aunício da Silva (AS): Ontem, com o anúncio dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, membros da RENAMO queimaram pneus, durante a noite, na Rua dos Continuadores. Esta manhã, a situação mudou de figura, tanto é que a Polícia da República de Moçambique mobilizou-se no seu máximo para repor a ordem e tranquilidade públicas.
Infelizmente, a polícia foi muito mais violenta do que os manifestantes. Disparou contra cidadãos indefesos e inocentes que iam para os seus locais de trabalho. Já deram entrada no Hospital Central de Nampula oito indivíduos vítimas desta brutalidade da atuação policial. Há crianças que foram atingidas pelo gás lacrimogéneo quando vinham da escola, uma vez que as escolas se viram obrigadas a encerrar as suas portas para garantir a segurança das crianças, dos professores e dos outros utentes dos estabelecimentos de ensino.
DW África: Como é que os próprios manifestantes estão a reagir? Estão a ripostar a ação policial?
AS: Naturalmente. Neste momento, já há um polícia gravemente ferido, que deu entrada no serviço de urgência do Hospital Central de Nampula. Há relatos, ainda não confirmados, que um agente da polícia tenha ficado sem a sua arma de fogo e que foi esta arma que foi usada para alvejar o seu colega. Portanto, estamos numa situação de escaramuças, de conflitos pós-eleitorais jamais vistos na história da cidade de Nampula.
DW África: Confirma que os manifestantes também estão a destruir bens privados?
AS: Sim, há bens privados e públicos a serem destruídos. Há viaturas que ficaram danificadas ao longo da Avenida Paulo Samuel Kankhomba, nas imediações do mercado central, e há também lojas que foram vandalizadas e saqueadas. Isto está a acontecer na zona dos bombeiros, que faz parte do posto administrativo urbano central.