Aproveitamento político para manchar o MDM?
9 de novembro de 2017Manuel Tocova, presidente interino do Conselho Municipal da Cidade de Nampula foi levado para a prisão do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique sob forte escolta policial. Tocova foi indiciado por porte ilegal de arma de fogo do tipo pistola com mais de 100 munições, arma que estava na sua posse desde 2014. Com ele também foi detido o antigo deputado Pedro Maria da RENAMO, o maior partido da oposição.
Tocova explicou aos jornalistas as principais razões que o levaram para a cadeia. "Pedi de empréstimo uma arma ao senhor Pedro, mas com uma condição de mensalmente pagar um aluguer. Mas não consegui honrar esse compromisso [com os pagamentos] porque a pistola se estragou e entendi que não haveria mais necessidade de me preocupar com o assunto... e é por isso que houve denúncias de pessoas e a Policia fez o seu trabalho", disse Tocova.
A DW África perguntou a Manuel Tocova porque queria ter uma arma? "Era para a minha defesa pessoal", explicou sem entrar em mais detalhes.Por sua vez o ex-deputado da RENAMO, igualmente detido, diz ter uma licença de porte de armas, e esclareceu as razões que o levaram a alugar a pistola ao presidente interino do Município de Nampula.
"Entregou-me o seu B.I. [Bilhete de Identidade] e passei o contrato para ele com a duração de seis meses. Só que passado esse período o senhor [Tocova] não me devolveu a arma, para além de não ter cumprido o nosso contrato. Se lhe entreguei a arma foi simplesmente para ajudar o senhor Tocova a defender-se em caso de necessidade, porque acabava de ascender ao cargo de presidente da Assembleia Municipal e dizia que não se sentia seguro", disse Pedro Maria.
Investigação levada a cabo pelo SERNIC
Segundo o porta-voz da polícia em Nampula, Zacarias Nacuti, a detenção dos dois políticos resulta de um trabalho de investigação levado a cabo pelo Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC).
"Os indivíduos foram detidos ontem (08.11.) às 15 horas, e agora decorrem os trâmites para a legalização da prisão e assim poderem responder criminalmente no tribunal", disse Nacuti.O secretário geral do partido governamental FRELIMO, Roque Silva, que está de visita à província de Nampula, afirmou numa reunião com a direção provincial do partido que "membros da FRELIMO não andam armados de qualquer maneira, e que um membro da FRELIMO não aluga pistola a ninguém, porque os membros da FRELIMO querem a paz".
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), através do seu porta-voz Sande Carmona, disse que o que está a acontecer em Nampula não passa de um aproveitamento politico orquestrado pela FRELIMO para manchar Tocova e eliminar a sua formação politica do mapa.
''Quando Tocova não era presidente do Conselho Municipal não aconteciam coisas dessas. Mas agora que ele assumiu o comando do Conselho Municipal de Nampula passou a ser uma ameaça e vão fazendo de tudo para o prejudicar e tentar arranhar o MDM", lamentou Carmona.
Reflexos na campanha eleitoral
O analista Arlindo Murririua, que reconhece haver prática de crime por parte do edil interino pela posse ilegal de arma, considerou também existir algum aproveitamento politico. Murririua diz que o MDM terá muitas dificuldades no futuro, pois os acontecimentos terão reflexos na campanha eleitoral e poderão desacreditar o partido de Daviz Simango.
"Disso o MDM não pode duvidar ... tudo é para ser aproveitado na campanha onde as questões politicas estarão bem presentes. Portanto há muito aproveitamento político nisso", disse Murririua.
A DW-África questionou ainda Manuel Tocova sobre o funcionamento e a gestão da cidade de Nampula enquanto permanecer na prisão.Tocov repondeu que "as estruturas estão montadas e funcionam. Naturalmente, as bancadas poderão reunir-se em sessão extraordinária para eleger um novo presidente da Assembleia [ que poderá assumir interinamente a gestão Municipal]".
Recorde-se que o paradeiro de Manuel Tocova esteve envolto em confusão esta semana, depois de o edil interino de Nampula ter dito a alguns jornalistas, ao telefone, que tinha fugido de Nampula para um lugar que ele próprio descreveu como "incerto", devido a ameaças de morte.
Nomeação de vereadores sem efeito
Recentemente, o Tribunal Judicial da Província de Nampula considerou nula e sem efeito jurídico a nomeação por Manuel Tocova de dez vereadores e seis chefes de postos administrativos, exigindo que os dirigentes municipais anteriormente exonerados fossem reempossados. Na sequência das nomeações, o edil interino de Nampula foi condenado a três meses de prisão suspensa por desobediência.
Manuel Tocova, que era presidente da assembleia municipal de Nampula, assumiu a presidência do governo da cidade na sequência do assassinato a 04 de outubro do anterior edil, Mahamudo Amurane.
Na terça-feira (07.11.), o Conselho de Ministros marcou a eleição intercalar em Nampula para 24 de janeiro.