Recurso ao FMI ajuda a melhorar imagem de Angola
19 de abril de 2018"De facto, este programa não deverá constituir uma mudança significativa no cenário macroeconómico para Angola", refere uma nota ao mercado do Banco de Fomento Angola (BFA).BFA, a que a Lusa teve acesso, sublinhando que "os principais problemas", como a elevada dívida, com concentração de reembolsos no curto prazo, inflação persistentemente alta, disparidade no câmbio e a dependência quase absoluta do petróleo, permanecerão a curto e médio prazo. "Independentemente da existência do programa", aponta.
O Governo angolano anunciou quarta-feira (18.04) ter solicitado um programa de apoio ao Fundo Monetário Internacional (FMI), para coordenação de políticas económicas, mas sem qualquer envelope financeiro associado.
Em comunicado enviado à Lusa, em Luanda, pelo Ministério das Finanças, numa altura em que decorrem em Washington os Encontros de Primavera, promovido pelo FMI, nos quais a comitiva angolana é liderada pelo ministro das Finanças, Archer Mangueira, é esclarecido que o programa em causa é um Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI, na sigla em inglês).
"Que é um programa não financiado, que o [Governo angolano] auxiliará na implementação das medidas contidas no seu Programa de Estabilização Macroeconómica, iniciado em janeiro do corrente ano, assim como servirá para o crescente aumento da credibilidade externa do nosso país com efeitos positivos na captação de Investimento Direto Estrangeiro", lê-se no comunicado.
Implementação real de reformas
Para os analistas do BFA, "uma das consequências deste possível acordo é uma maior capacidade de real implementação de reformas por parte das autoridades nacionais".
Por um lado, refere a nota, a intervenção do FMI "porá seguramente mais alguma pressão na concretização das políticas pretendidas", embora "não tanta pressão como num programa onde existe financiamento".
"Por outro, parece-nos que esta formalização é, em alguma medida, uma institucionalização de alguma cooperação que já estava a ocorrer entre o FMI e certas entidades angolanas", apontando o apoio técnico ao Banco Nacional de Angola como um exemplo.
O cumprimento deste programa "pode ser um instrumento bastante útil de compromisso com as reformas económicas iniciadas", pelo que o "efeito principal do programa", no curto prazo, consiste "numa melhoria da imagem externa do país, com possíveis reflexos nos custos de financiamento e no apetite para o investimento direto estrangeiro no país".
"De facto, este não é um desenvolvimento que mude radicalmente as expectativas face à economia angolana. Porém, contribui para um tom geral de agradável surpresa com as autoridades angolanas que reina neste momento entre os investidores e analistas. O rápido avanço do processo para a emissão de 'eurobonds', que tem sido subtilmente adiado, constituiria prova de um efeito reputacional bastante positivo", concluiu a nota do BFA.
Assistência financeira
Segundo o FMI, as condições do programa económico de apoio a Angola, anunciado em Luanda, são iguais às de um programa de assistência financeira, "exigindo-se o mesmo padrão às políticas". "Embora não envolva o uso de recursos do FMI, exige-se que as políticas apoiadas no âmbito do Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI) atinjam o mesmo padrão que se impõe às políticas no âmbito de um acordo de empréstimo do Fundo", disse o subdiretor-geral do FMI, num comunicado divulgado no seguimento do anúncio do acordo, em Luanda.
"Recebemos uma carta das autoridades angolanas para que o corpo técnico do FMI dê início às discussões de um programa económico que possa ser apoiado pelo PCI", escreveu Tao Zhang, elogiando o novo executivo pelas medidas já aprovadas.
O PCI é um instrumento não financeiro disponível para todos os países-membros do FMI que não necessitam de recursos financeiros do Fundo no momento da aprovação do acordo e que não têm obrigações financeiras em atraso para com a instituição e destina-se a países que procuram demonstrar o seu compromisso com uma agenda de reformas e/ou desbloquear e coordenar o financiamento de outros credores oficiais ou investidores privados, segundo a definição do FMI.