Samia Suluhu Hassan: Quem é a nova Presidente da Tanzânia?
26 de março de 2021O enterro do ex-Presidente John Magufuli acontece esta sexta-feira (26.03) em Chato, a sua aldeia de origem, no noroeste da Tanzânia. Há uma semana que o país é liderado por Samia Suluhu Hassan, que entrou para a história como a primeira mulher a assumir a presidência do país.
Na cerimónia de posse, em Dar es Salaam, a nova líder da Tanzânia, que é carinhosamente conhecida como "Mama Samia", assegurou que Magufuli a tinha preparado para a tarefa que agora tem pela frente, de trabalhar pela unidade nacional.
Hassan completará o segundo mandato de cinco anos de John Magufuli, que começou em outubro de 2020, após vencer as eleições gerais. Mas a sua jornada política começou em 2000, quando foi eleita membro especial da Câmara dos Representantes de Zanzibar e nomeada ministra.
Depois de cumprir dois mandatos, concorreu a um lugar no Parlamento em 2010 e venceu a votação com mais de 80%. O então Presidente Jakaya Kikwete nomeou-a ministra de Estado para os Assuntos da União. Em 2014, foi eleita vice-presidente da Assembleia Constitucional e foi redatora da nova Constituição da Tanzânia.
Aproximação a Magufuli
"O facto de ela ser muçulmana e vir de Zanzibar representa muito e penso que a sua cerimónia de posse foi muito simbólica. Não somente para os tanzanianos, mas também para muitas mulheres e jovens em todo o mundo", explica a ativista Maria Sarungi, salientando o significado da ascensão de Hassan ao poder.
Samia Suluhu Hassan concorreu ao lado de Magufuli quando este chegou ao poder, em 2015, o que surpreendeu muitos outros membros proeminentes do Partido da Revolução - o Chama Cha Mapinduzi (CCM), grupo político no poder desde a independência da Tanzânia.
Além de ser a primeira mulher Presidente da Tanzânia, Hassan é a primeira cidadã do estado semiautónomo de Zanzibar a ser chefe de Estado. Desde cedo, foi educada fora dos padrões tradicionais de esposa e dona de casa e frequentou a escola numa altura em que poucas jovens tanzanianas tinham a mesma oportunidade.
O primeiro grande desafio de Hassan será a gestão da pandemia de Covid-19, que durante a presidência de Magufuli foi bastante criticada.
"Ainda é necessário continuar a pressionar o Governo para garantir que a pandemia não seja politizada, que seja aceite, tratada de forma científica, com uso de máscaras faciais, e que se comece a preparar a Tanzânia para um plano de vacinação", salienta Sarungi.
Expetativas internas e externas
A nova líder terá de assegurar o apoio do CCM. Como mulher muçulmana, poderá enfrentar obstáculos com a ala cristã do partido. Surungi avalia que o partido terá uma influência muito grande no mandato de Hassan. "O que precisa de ser visto é como ela se vai portar quando não for ela a receber ordens, mas sim a dar ordens", questiona.
Resta saber se a nova líder permanecerá leal às políticas de John Magufuli ou se vai insistir na mudança. Seguindo Surungi, a gestão de Hassan concentra "expectativas enormes" e a Presidente precisaria estar consciente disso.
"Os tanzanianos estão muito ansiosos por abrir um novo capítulo após cinco anos e meio sombrios, controversos e extremamente divisivos de John Magufuli", opina.
Hassan também atrai, entretanto, a atenção de lideranças de países vizinhos. Em Moçambique, por exemplo, o edil de Quelimane Manuel de Araújo acredita que a nova Presidente poderá ter um papel relevante no combate ao terrorismo em Cabo Delgado.
"Eu acho que há uma oportunidade ímpar, agora, porque vai entrar em jogo na Tanzânia um novo ator, a nova Presidente. Penso que seria importante, primeiro, o Presidente Nyusi fazer as exéquias ao Presidente Magufuli, porque essa pode ser uma oportunidade para renovar os laços que se perderam", diz o edil de Quelimane.