Soldados ucranianos terão matado prisioneiros russos
8 de abril de 2022O vídeo partilhado em plataformas de conversação online mostra três tiros a serem disparados contra um homem ensanguentado, deitado na estrada, ao lado de um soldado russo morto, e que parece respirar com dificuldade. Usa braçadeiras brancas, aparentemente iguais às utilizadas pelas forças russas.
A informação foi verificada por vários meios de comunicação internacionais, entre os quais a agência de notícias Reuters.
"Olha, ele ainda está vivo, está ofegante... Acabou", diz uma voz, antes de se ouvirem os primeiros dois tiros no vídeo. Um terceiro tiro é disparado depois de o soldado continuar a mover-se. Nas imagens, não é possível observar quem faz os disparos.
O vídeo, com mais de dois minutos, mostra outros dois soldados mortos na estrada, ambos com braçadeiras brancas. Um deles está com as mãos amarradas atrás das costas e parece baleado na cabeça. Um veículo blindado russo surge abandonado nas proximidades.
A Reuters não conseguiu estabelecer a data exata do vídeo, que foi noticiado pela primeira vez pelo jornal norte-americano The New York Times. No entanto, a agência de notícias geolocalizou-o numa zona norte da vila de Dmytrivka, não muito longe da cidade de Busha, a noroeste de Kiev, onde a Ucrânia acusou as forças armadas da Rússia de crimes de guerra. Moscovo disse que a filmagem de cadáveres em Busha foi encenada.
Ucrânia admite incidentes isolados
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse esta quinta-feira (07.04) que não viu o vídeo em questão, mas admitiu que já ouviu falar do mesmo.
"Quero assegurar-vos que o Exército ucraniano observa as regras da guerra... Claro que pode haver incidentes isolados de violação dessas regras, e eles serão definitivamente investigados", asseverou.
Já esta sexta-feira (08.04), o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, pediu, no Parlamento finlandês, armas e sanções "poderosas" do Ocidente contra a Rússia.
Numa intervenção por videoconferência perante os deputados, o chefe de Estado ucraniano criticou aqueles que fazem o seu país esperar: "Esperar pelas coisas de que precisamos desesperadamente, esperar pelos meios para defender as nossas vidas".
"Precisamos de armas que alguns de nossos parceiros na União Europeia têm", reiterou.
O líder ucraniano pediu também à Europa que lance um "cocktail Molotov" de sanções contra a Rússia, referindo-se ao nome das bombas incendiárias artesanais popularizadas pelos finlandeses durante a guerra contra a União Soviética na II Guerra Mundial. "Por quanto tempo a Europa pode ignorar um embargo contra o petróleo russo? Por quanto tempo?", questionou.
Mais sanções
Representantes dos 27 países membros da União Europeia (UE) decidiram na quinta-feira um embargo ao carvão russo e o encerramento dos portos europeus aos navios da Rússia, como parte de uma quinta série de sanções contra Moscovo.
Esta sexta-feira, a UE congelou ativos de oligarcas e instituições da Rússia e da Bielorrússia que totalizam quase 30 mil milhões de euros, divulgou a Comissão Europeia, em comunicado. Os ativos congelados incluem barcos, helicópteros e bens imóveis, além de obras de arte avaliadas em 6,7 mil milhões de euros, conforme detalhou o Executivo do bloco comunitário.
A Comissão Europeia informou que está prevista para esta sexta-feira uma reunião do "Grupo e Trabalho de Congelamento e Confisco", com representantes dos Estados Unidos e da Ucrânia, para discutir a cooperação internacional na aplicação das sanções.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou em Kiev o regresso do embaixador da União Europeia à capital ucraniana, para que o bloco europeu e a Ucrânia possam "trabalhar juntos de forma ainda mais direta e estreita".
"A União Europeia volta a Kiev", anunciou o Alto Representante da UE para a Política Externa na capital ucraniana, para onde viajou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Ataques prosseguem
As forças russas tentaram entrar em Kiev nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro, mas a cidade resistiu aos ataques russos e o Governo continuou a trabalhar desde a capital, tendo Josep Borrell considerado "impressionante" a forma como as autoridades conseguiram prosseguir o seu trabalhado "em circunstâncias tão difíceis".
No entanto, os combates continuam na zona leste da Ucrânia. O número de mortos num ataque que esta sexta-feira visou a estação ferroviária de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, subiu para pelo menos 39, incluindo quatro crianças, e há 87 pessoas feridas, segundo o governador de Donetsk.
Entre os feridos está um "número significativo" de casos graves, referiu Pavlo Kirilenko, através de uma mensagem na sua conta na rede social Twitter.
A ofensiva militar da Rússia na Ucrânia matou pelo menos 1.611 civis, incluindo 131 crianças, e feriu 2.227, entre os quais 191 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos, naquela que é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.