Tentáculos da corrupção brasileira chegam a Angola
23 de julho de 2015No dia 19 de junho foi detido o presidente do conglomerado, Marcelo Odebrecht, por suspeita de corrupção de funcionários do Estado brasileiro, para obter adjudicações lucrativas. O seu grupo tem atividades importantes em Moçambique, nos sectores transportes, carvão e agricultura. Mas também em Angola.
As autoridades brasileiras foram alertadas para casos graves de corrupção pelas pesquisas do jornalista Jamil Chade, que teve acesso a documentos inéditos do grupo online Wikileaks. "São telegramas das embaixadas americanas em vários países do mundo, reportando para o Departamento de Estado em Washington sobre atividades locais", explica.
E nesses relatos, acrescenta, aparece "de forma bastante clara" o nome da construtora brasileira Odebrecht. Para o jornalista, não há dúvida de que os telegramas mostram de forma conclusiva que "a Odebrecht ganhava contratos, ou sem licitação, ou por meio de pagamentos de propinas".
O envolvimento do Presidente José Eduardo dos Santos
Jamil Chade leu o relatório da embaixada americana que refere uma visita do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva em 2007: "O telegrama mostra de facto como o Brasil, durante aquela viagem do Lula obteve contratos importantes. Um desses contratos é entre a empresa Odebrecht e uma empresa local angolana. O que surpreende os americanos é que essa empresa angolana basicamente nem existia algumas semanas antes da assinatura desse contrato".
Os americanos investigaram e descobriram que "na verdade, essa empresa é do Presidente José Eduardo dos Santos. Claro que sem que o seu nome tenha jamais aparecido em qualquer tipo de negociação", explica o jornalista.
Ex-Presidente do Brasil nega tráfico de influência
No Brasil, o ex-Presidente Lula da Silva é alvo de um inquérito de suposto tráfico internacional de influência, cometido entre os anos de 2011 e 2014. O político nega qualquer irregularidade. Considera ser vítima de manipulações e afirma que os telegramas em causa revelam os interesses da diplomacia norte-americana nos mercados internacionais.
Também a Odebrecht rejeita as suspeitas sobre ela lançadas e explica que nunca teve qualquer condenação judicial por irregularidades em contratos nos países que atua. Marcel Odebrecht aguarda na prisão o julgamento por crimes de corrupção, lavagem de ativos, fraude em licitações e crime contra a ordem económica.
Entre os gestores apanhados nas malhas da Justiça, graças à operação anticorrupção denominada "Lava Jato", está também Eduardo Leite, ex-vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, um dos maiores grupos empresariais do Brasil. Condenado a quinze anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Eduardo Leite admitiu as irregularidades: "Participei no pagamento de propinas aos agentes públicos e privados relativamente a compromissos assumidos pela Camargo Correa na obtenção e execução de contratos junto da Petrobrás".
Resultados preliminares da "Lava Jato" indicam que as atividades ilegais das grandes companhias investigadas por esta operação já custaram mais de seis mil milhões de dólares aos cofres do Estado.