Ucrânia: "Fala-se mais em guerra do que em paz"
19 de maio de 2023A ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, Naledi Pandor, lamentou hoje, em Lisboa, que haja "mais conversas sobre como apoiar a guerra do que sobre como terminá-la", referindo-se à invasão russa da Ucrânia.
"Temos um comité de seis presidentes africanos que vão à Rússia e à Ucrânia falar com os dois presidentes para tentar encontrar uma solução diplomática, porque há mais conversas sobre como apoiar a guerra do que sobre como terminá-la", disse.
"E, enquanto África, gostávamos de desempenhar um papel no fim da guerra", acrescentou Pandor ao final de um encontro com o homólogo português, João Gomes Cravinho.
Os "seis líderes que concordaram criar uma equipa [africana] com uma missão são os presidentes do Senegal, Gana, Uganda, África do Sul, Egito e República do Congo", disse a ministra, recordando que todos os problemas podem e devem ser resolvidos pela via do diálogo.
Diplomacia, "como no caso do 'apartheid'"
"Mesmo os problemas mais preocupantes podem ser resolvidos pela diplomacia, como foi no caso da segregação racial ('apartheid') no meu país, em que falámos com os nossos inimigos em circunstâncias muito difíceis", lembrou, defendendo a necessidade de a comunidade internacional olhar não só para a guerra na Ucrânia, mas para outras regiões a atravessar muitas dificuldades.
Segundo Pandor, "o foco na Ucrânia afastou a atenção da comunidade internacional de outros conflitos, tornou-os menos preocupados com outros países, como o Sudão, Mali, Chade, Burkina Faso, onde as pessoas estão diariamente debaixo de fogo".
"Parece que ficaram todos invisíveis, e precisamos de voltar a preocupar-nos com o mundo inteiro e não apenas uma parte", acrescentou.
O comentário da ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana aconteceu no mesmo dia em que os líderes do Grupo dos Sete (G7) encontram-se reunidos em Hiroshima.
Durante as conversações na cidade japonesa, os líderes disseram que vão "manter-se unidos contra a guerra de agressão ilegal, injustificável e não provocada da Rússia contra a Ucrânia" e prometeram reforçar as sanções contra a Rússia.
O grupo dos sete países mais industrializados inclui a Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, bem como a União Europeia (UE).
"Melhores laços com o mundo árabe"
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky viajou, entretanto, até à Arábia Saudita, para "melhorar os laços com o mundo árabe". Zelensky chegou a Jidá, no oeste da Arábia Saudita, esta sexta-feira, o dia em que começa a cúpula anual dos chefes de estado da Liga Árabe.
"Inicio a minha primeira visita ao Reino da Arábia Saudita para melhorar as relações bilaterais e os laços da Ucrânia com o mundo árabe", escreveu o Presidente ucraniano numa mensagem publicada no Twitter.
O líder ucraniano pediu independência nas tomadas de posição sobre a invasão russa da Ucrânia, lamentando que Estados-membros da Liga Árabe ignorem as anexações ilegais da Rússia.
"Por muito que os russos tentem influenciar, deve continuar a haver independência", defendeu o líder ucraniano.
Zelensky chamou ainda a atenção para o facto de o Presidente sírio, Bashar al-Assad, aliado da Rússia, se ter recusado a ouvir o seu discurso, abstendo-se de colocar os auscultadores da tradução.
"Sem auscultadores"
"Infelizmente, há algumas pessoas no mundo e aqui entre vós que fecham os olhos a estas anexações ilegais, e eu estou aqui para que todos possam olhar [para a situação] honestamente", disse Zelensky, citado pela agência espanhola EFE.
Al-Assad é um importante aliado da Rússia, país que intervém militarmente na Síria desde 2015, a favor de Damasco. O apoio russo foi fundamental para que as tropas governamentais sírias recuperassem o controlo da maior parte do território que perderam durante os primeiros anos da guerra civil.
Ataques contra cidades
A Rússia lançou esta sexta-feira um ataque noturno com drones e mísseis contra a Ucrânia, pelo segundo dia consecutivo, visando as cidades de Kiev, Lviv e Kryvy Rih. O ataque foi quase totalmente repelido pelas defesas antiaéreas, avançaram hoje fontes oficiais ucranianas.
"Todos os alvos aéreos rumo a Kiev foram abatidos", escreveu a administração militar da província de Kiev no Telegram.
Em Kryvy Rih, uma cidade na região leste de Dnipropetrovsk, pelo menos duas pessoas, uma mulher de 64 anos e um homem de 45 anos, ficaram feridas como resultado do ataque desta madrugada: "O inimigo atacou uma empresa industrial privada. Várias oficinas foram seriamente danificadas e alguns edifícios foram incendiados", relatou a administração militar regional.
Na cidade de Lviv, no oeste do país, não foram registadas vítimas, segundo as autoridades locais.