Ajuda para as Filipinas evidencia jogo de poder no Sudeste Asiático
15 de novembro de 2013Após a catástrofe nas Filipinas, a disposição internacional de ajuda é grande. A União Europeia disponibilizou 13 milhões de euros, o Japão, cerca de 7,5 milhões e os Estados Unidos, quase 15 milhões. Os EUA também enviaram o porta-aviões USS George Washington acompanhado de navios de escolta, com aproximadamente 5 mil soldados, helicópteros e aviões de transporte.
Em contrapartida, o governo da República Popular da China prometeu, a princípio, ajuda de somente 75 mil euros, além de uma quantia do mesmo valor proveniente da Cruz Vermelha chinesa. Após críticas, a ajuda às Filipinas foi elevada para 1,2 milhão de euros – muito tarde, acreditam especialistas.
Rivalidade na catástrofe
A relutância chinesa em ajudar tem um antecedente político. Há anos a China briga com as Filipinas e com outros países do Mar do Sul da China pela soberania na região. Em jogo estão arquipélagos, regiões de pesca, rotas comerciais e principalmente grandes reservas de matérias-primas que supostamente estariam no subsolo marinho.
Essa disputa atingiu um ápice em janeiro deste ano, quando as Filipinas transferiram a disputa em torno do recife Scarborough, situado ao largo da costa leste filipina, para o Tribunal Internacional de Direito do Mar das Nações Unidas.
Mesmo que não haja veredicto, o dano para a imagem da China é grande. Pequim rejeita categoricamente uma solução internacional e insiste em negociações bilaterais. A estratégia da China tem como objetivo evitar a internacionalização do conflito e criar uma disputa entre os Estados banhados pelo Mar do Sul da China, já que todos pertencem à Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês).
Segundo Gerhard Will, especialista em Sudeste Asiático no Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão), principalmente as Filipinas estão na mira da China. Em entrevista à Deutsche Welle, Will comentou que "a República Popular da China empregou grandes esforços para isolar as Filipinas na Asean. Ela [China] mantém boas relações com os países-membros da Asean, faz ofertas generosas. Mas as Filipinas ficam de fora." Por causa dessa atitude hostil, a China prometeu ajuda às Filipinas só com muita relutância e em pequena escala, explicou Will.
Essa resistência não é somente uma atitude do governo da República Popular da China, mas em parte também da população chinesa. O governo da região administrativa de Hong Kong pretendia doar o equivalente a 3,8 milhões de euros, mas muitos dos moradores da antiga colônia britânica teriam sido contrários a essa doação, explicou o fundador do Instituto Social de Pesquisa de Shenzhen, Liu Kaiming, em entrevista à Deutsche Welle.
Segundo Liu, ainda estaria muito presente na memória o sequestro de turistas chineses em 2010 na capital filipina, Manila. Durante a libertação, oito turistas provenientes de Hong Kong morreram. Nas redes sociais chinesas, dois terços das pessoas são contra ajudar as Filipinas.
China perde oportunidade
Embora tenha ganhado alguns pontos recentemente no Sudeste Asiático, essa atitude de recusa pode sair caro para a China. No início de outubro, o presidente Barack Obama cancelou sua participação na reunião da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) em Bali e no encontro da Asean na capital de Brunei, Bandar Seri Begawan.
O presidente chinês, Xi Jinping, não perdeu a oportunidade e declarou em seu discurso: "A China não pode se desenvolver isolada da região Ásia-Pacífico, e a região não pode avançar sem a China." Em outras palavras, o especialista Gerhard Will explicou: "Nos últimos meses, a China esteve muito presente particularmente no Sudeste Asiático porque os Estados Unidos tiveram representação muito fraca."
A ausência de Obama foi explorada pela mídia chinesa: "Pode-se ver que os Estados Unidos não são capazes de desempenhar realmente um papel importante na região. Aqueles que podem exercer esse papel de importância somos nós, os chineses."
Com os acontecimentos nas Filipinas, a ajuda decisiva dos americanos e a relutância dos chineses, a situação agora é inversa. Segundo Will, "no geral, a questão se desenvolveu em detrimento da República Popular da China. Os EUA aproveitaram decidida e ativamente essa oportunidade de marcar presença mais fortemente na região."
Li Dun, da Universidade de Qinghua, lamenta a atitude chinesa, fruto de um novo nacionalismo. "É preciso alertar para esse nacionalismo, porque ele ameaça 30 anos de esforços para voltar à comunidade internacional." Para Liu Kaiming, é preciso deixar a política de fora. "Sou da opinião que se deve diferenciar a política da ajuda humanitária."