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Revolução por rede social

14 de julho de 2011

O vkontakte é a resposta russa ao Facebook. Um grupo de 25 mil membros organiza, pela plataforma, ações públicas contra o governo bielorrusso autoritário. Pacifismo não os preserva da prisão, mas protestos prosseguem.

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Repressão a 'protesto silencioso' em Brest, Belarus
Repressão a 'protesto silencioso' em Brest, BelarusFoto: DW
Alexander Lukachenko: autoritarismo odiado
Alexander Lukachenko: autoritarismo odiadoFoto: picture alliance/dpa
"Revolução através da Rede Social" é como se intitula o grupo que atualmente faz tremer nas bases o presidente bielorrusso, Alexander Lukachenko. A rede já conta 25 mil membros, e sua comunicação transcorre online através da plataforma vkontakte (em russo: "em contato"), uma versão russa do Facebook. Numa carta aberta ao "cidadão Lukachenko", os organizadores declararam guerra ao regime do odiado chefe de Estado. "Não lutamos por um pedaço de salsicha, ou por 20 dólares a mais, mas sim pela liberdade", rezava o documento.
Suas ações públicas organizadas passaram a acontecer a partir do início de junho último: sempre às quartas-feiras, sempre silenciosas, sempre pacíficas. Numa das mais recentes, calcula-se que em todo o país 5 mil pessoas foram às ruas. O regime interpretou o fato como uma provocação, prendendo centenas de manifestantes.
Sem slogans, nem faixas
Viatcheslav Dianov é administrador da rede Revolução através da Rede Social. Ele deixa claro que programas políticos não são o assunto da comunidade online. "Lutamos pela liberdade de nosso país. Nossa missão é cuidar para que o regime Lukachenko seja eliminado." Os cidadãos têm que decidir em eleições livres a quem cabe formar o Estado, reivindica.
Deste modo, a tarefa autoimposta dos ativistas online é avivar os cidadãos e organizar o protesto, a fim de alcançar amplas camadas da população, sobretudo a classe operária. Além disso, o protesto precisa, por assim dizer, passar do mundo virtual à esfera real.
'Fora Lukachenko': aplausos diante da embaixada bielorrussa em Moscou
'Fora Lukachenko': aplausos diante da embaixada bielorrussa em MoscouFoto: dapd
O especialista em Belarus Ingo Petz não considera mero acaso o fato de revolucionários da internet estarem à frente do movimento de protesto. Como parte da onda de repressão iniciada após as eleições presidenciais de 2010, políticos da oposição foram aprisionados, condenados em processos de fachada e coagidos ao exílio. O resultado foi a neutralização total da oposição político-partidária. Agora, outros poderes da sociedade tomam o seu lugar, conclui Petz.
O "revolucionário" Dianov afirma pessoalmente não ter medo do contato com os oposicionistas. "Não importa quem vá às ruas: políticos da oposição, trabalhadores, estudantes. Importante é que apoiem a forma das ações: nada de slogans, nada de faixas ou coisas semelhantes. Se os partidos políticos estiverem prontos a adotar essa forma de protesto, vamos dar-lhes as boas-vindas."
Centenas de presos desde início de protestos
Para a sexta passeata da série, nesta quarta-feira (13/07), a Revolução através da Rede Social estabelecera um plano, devidamente divulgado pelo site da vkontakte. Os manifestantes deveriam se reunir em pequenos grupos em diferentes centros comerciais e, a uma hora determinada, partir para os pontos de encontro, para lá ficarem passeando.
Ao contrário de convocações anteriores, não havia a indicação de que aplaudissem e cantassem canções folclóricas. Na capital Minsk e em outras cidades menores, centenas de manifestantes programaram o alarme de seus telefones celulares para tocar às 8h, a fim de despertar Belarus, num gesto simbólico conjunto.
Apesar do pacifismo declarado, calculado para não dar margem a ação policial, os protestos em Minsk foram dissolvidos violentamente, e mais de cem participantes foram presos, a maioria sob a acusação de tomar parte em reunião pública não autorizada. Entre os detidos encontravam-se pelo menos dois jornalistas. Desde que os "protestos silenciosos" começaram, mais de 1.800 pessoas já foram encarceradas.
Projeto by-angels.org se bate pelos detidos nas manifestações em Belarus
Projeto by-angels.org se bate pelos detidos nas manifestações em BelarusFoto: by-angels.org
Flashmobs em vez de comícios
Belarus está enterrado na pior crise econômica dos últimos 20 anos, com desvalorização da moeda nacional em mais de 50%, inflação e desemprego galopantes. Lukachenko argumenta que um governo autoritário é necessário para reverter a derrocada econômica. Nos últimos meses, um de seus alvos prediletos tem sido a internet, que classifica como "uma cloaca".
Do ponto de vista do especialista russo Kirill Kotich, a "revolução muda" é expressão de uma sociedade atomizada. Seu colega ucraniano Vladimir Gorbatch considera o grupo Revolução através da Rede Social condizente com o espírito da época. Pois a geração mais jovem, justamente, não vai a manifestações, nem escreve artigos de protesto, preferindo participar de flashmobs – ações-relâmpago conjuntas combinadas a curto prazo pela internet.
É muito fácil ser preso em Minsk
É muito fácil ser preso em MinskFoto: DW
Kotich não acha completamente impossível que as gerações mais maduras venham a se unir aos protestos silenciosos. Seja como for, é um indicador da situação política em Belarus o fato de que se possa cair nas garras do aparato estatal de repressão por simplesmente aplaudir em público, critica o estudioso russo.
Porém os revolucionários da internet também veem o tempo como um fator a seu favor. Viatcheslav Dianov está convencido de que o regime autoritário cairá, dentro de prazo razoável. Na realidade, Alexander Lukachenko está de costas contra o muro, afirma. Além dos fatores sociais, a economia estatal pré-determinada encontra-se num estado desolador. "Mais cedo ou mais tarde, a insatisfação com o regime Lukachenko redundará em protestos de massa", prediz.
Os observadores especializados também creem que a fase mais ativa dos protestos virá no último trimestre de 2011. Aí terá também chegado o momento de a atual oposição se decidir sobre como se posicionar em relação aos revolucionários da rede social, aponta o perito bielorrusso Denis Melianzov: ou ela agarra a chance de se colocar à frente dos protestos, ou novos líderes políticos tomarão as ruas de Belarus.
Autor: B. Görtz / G. Petrovskaia / V. Dorokhov / A. Valente
Revisão: Carlos Albuquerque