Brasil tem o menor número de casos de malária em 30 anos
25 de abril de 2012O governo brasileiro acredita estar no caminho certo para o combate da malária no país. Em 2011, as autoridades de saúde registraram o menor número de casos dos últimos 30 anos no Brasil, com 263.323 casos – 21% a menos que no ano anterior.
O Ministério da Saúde atribui a queda dos índices à estratégia de ampliação de acesso ao diagnóstico e ao tratamento rápido, e também ao treinamento dos agentes de saúde para identificarem a doença, como os fatores principais que levaram o Brasil a deixar para trás os alarmantes índices de 6 milhões de casos anuais que chegaram a ser registrados nos anos 1940.
No entanto, apesar do balanço positivo neste 25 de abril, Dia Mundial da Malária, autoridades de saúde concordam que ainda há muitos desafios a serem superados no país. Um deles é reduzir o volume de transmissão da doença na região Amazônica – que concentra 99% dos casos no país. Moradores de algumas áreas dos estados do Amazonas e do Pará, por exemplo, chegam a ser infectados várias vezes durante toda a vida.
O avanço da malária nas áreas urbanas da região endêmica brasileira também vem sendo uma tendência preocupante. Com o processo de urbanização, o plasmódio (parasita da malária) está sendo levado com maior velocidade para as grandes cidades, e se dissemina especialmente nas periferias, mais próximas das áreas de floresta. Para combater o problema, o governo brasileiro quer levar mais informação sobre a doença a essas localidades.
Em 2010, a doença foi responsável por 76 óbitos no país – índice considerado baixo pelo Ministério da Saúde. "A malária ainda é considerada um problema de saúde pública e se mantém dentro das prioridades do Ministério da Saúde. É uma doença que se consegue tratar, tem medicamento. É possível evitar os óbitos", explica a coordenadora-geral do Programa Nacional de Controle da Malária, Ana Carolina Santelle.
Um relatório divulgado em dezembro de 2011 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que os índices de mortalidade por malária caíram em mais de 25% no mundo, desde 2000. No Brasil, o número total de casos confirmados teve uma redução de mais de 50%, entre 2000 e 2009. Segundo a OMS, a redução dos casos e da mortalidade é resultado de intensos programas de prevenção e controle, com o uso generalizado de mosquiteiros e maior disponibilidade de medicamentos.
Diagnóstico e tratamento
De acordo com Santelle, 60% dos casos de malária no Brasil são diagnosticados nas primeiras 48 horas após a contaminação, um dos fatores fundamentais para garantir que o infectado responderá ao tratamento. O objetivo é ampliar este índice.
Ao sentirem os clássicos sintomas da malária – febre alta, calafrios e dores no corpo – os pacientes da região amazônica devem procurar um dos três mil laboratórios espalhados pela Amazônia para confirmar a presença do parasita transmissor no sangue. O resultado dos exames sai em até meia hora.
No entanto, em comunidades mais isoladas, especialmente pelas condições geográficas, o acesso é mais difícil. "Para chegar a algumas áreas indígenas, por exemplo, é preciso viajar uma semana de barco. É um problema não só por causa da malária, mas por qualquer outra doença", explica o infectologista Marcus Lacerda, pesquisador da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, em Manaus.
Lacerda ressalta, porém, que nestes casos os próprios indígenas são treinados para fazer o diagnóstico e indicar o tratamento da doença em suas aldeias. "Toda a região da Amazônia tem muito mosquito transmissor da malária, por isso o recurso para evitar a transmissão é tratar rapidamente as pessoas infectadas".
Os centros de atendimento também recebem orientações para que o tratamento seja adequado ao tipo de plasmódio causador da malária. No Brasil, são basicamente dois: o vívax, menos letal, que atinge 87% dos doentes; e o falcíparo, mais perigoso, 13%.
Combate ao mosquito
Especialistas concordam que a eliminação da malária do Brasil é uma meta ainda sem data para ser alcançada. Mas o foco, segundo eles, não deve ser eliminar o mosquito Anopheles, transmissor da doença, pois esta seria uma missão praticamente impossível. Na quente e úmida floresta amazônica, o animal encontra excelente ambiente para se reproduzir.
"No passado, havia transmissão de malária em Santa Catarina no verão. Mas, no inverno, os mosquitos morriam", conta o infectologista. "As áreas de maior incidência de malária na América Latina, por exemplo, são a áreas amazônicas".
O biólogo Bernardo Simões Franklin, do Instituto de Imunidade Innate, em Bonn, ressalta que o mosquito causador da doença está presente em praticamente em todas as regiões brasileiras. Ele lembra que, após o grande surto da década de 40, o Brasil investiu pesado para eliminar a malária do cotidiano de paulistas e de sulistas, por exemplo.
Atualmente, vários países do mundo continuam aplicando grandes somas na busca por uma vacina. Franklin ressalta que a dificuldade é encontrar um antídoto eficaz que responda aos diferentes níveis de imunidades das populações com diferentes graus de convívio com o parasita da malária.
"É uma doença que acompanha o ser humano desde o ano 2.700 a.C. Não acredito que possamos acabar com a malária. O que podemos fazer é reduzir bastante o número de casos", prevê Franklin. Com uma ressalva: "Mas na região amazônica eu acho difícil".
Problema mundial
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3,3 bilhões de pessoas em todo o mundo vivem sob o risco de contrair a malária. A doença está concentrada no continente africano, em países como Congo, Costa do Marfim e Angola.
Medidas de prevenção e controle da doença nas áreas mais afetadas levaram à redução de 25% dos índices globais de mortalidade da doença nos últimos dez anos. Considerando apenas o continente africano, a queda foi de 33%. Ainda assim, os números são assustadores. Em 2010, foram registrados 216 milhões de casos em todo o mundo, com mais de 650 mil mortes. Cerca de 90% dos óbitos foram registrados na África, sendo as mais afetadas as crianças com menos de cinco anos de idade.
Autora: Mariana Santos
Revisão: Roselaine Wandscheer