Cor da pele impede integração
12 de setembro de 2004Quando ouvem as palavras "migrantes africanos", muitos alemães pensam em navios lotados de refugiados, que tentam chegar ao litoral da Europa. Pouco se sabe sobre os que já estão vivendo na Alemanha. Três pesquisadores de Hamburgo divulgaram um estudo sobre o dia-a-dia destes imigrantes africanos e publicaram seus resultados sob o título Raízes em dois mundos, os migrantes da África Ocidental em Hamburgo.
O trabalho analisa a adaptação dos imigrantes africanos em uma grande cidade alemã como Hamburgo. Como funciona a integração em um clima não apenas caracterizado pelo tempo frio, mas também pela frieza no trato com os estrangeiros vindos do continente africano, comum em boa parte da sociedade alemã?
Desconhecimento por parte dos alemães
A maioria dos alemães sabe pouco sobre a África, sua história e cultura. "O continente é associado à pobreza e catástrofes", critica Joseph McIntyre, professor de Estudos Africanos na Universidade de Hamburgo. "Para muitos alemães, os conhecimentos da história africana limitam-se à época do colonialismo e da escravidão", completa McIntyre.
As conseqüências desta falta de conhecimento são graves para os africanos. Assim, a polícia de Hamburgo geralmente suspeita de que todos os negros sejam traficantes de drogas, o que é válido apenas para 5% deles. Os africanos que estão em busca de um trabalho também sofrem desvantagens. Mesmo bem qualificados, a maioria deles é obrigada a trabalhar em profissões mal pagas, como por exemplo ajudante de cozinha.
Apesar disso, quase todos os africanos se dizem satisfeitos por ter um trabalho, sabendo que o dinheiro que ganham na Alemanha muitas vezes sustenta enormes famílias no país de origem. Muitos deles tiveram que deixar sua pátria por razões financeiras, diz McIntyre: "O objetivo não é apenas garantir a sobrevivência da família, mas sim criar uma perspectiva para si próprio quando retornam. Apenas quem tem perspectivas no país de origem pensa em voltar um dia", completa.
Rejeição e isolamento em vez de integração
Uma boa parte dos africanos que vivem na Alemanha tenta se adaptar ao país. Muitos continuam sendo vistos como estrangeiros, geralmente por causa da cor da pele. O nigeriano Ahmed Samake passou por essa experiência. Embora esteja estudando há quatro anos em uma universidade no país, ainda não se acha integrado. "Não tenho amigos alemães com quem posso conversar à vontade", diz Samake, que normalmente só se encontra com outros estrangeiros ou fica em casa assistindo televisão.
"Apenas na família da minha esposa, que é alemã, sinto-me aceito", explica. Mas o casamento com uma alemã nem sempre significa automaticamente a adaptação. Nos serviços públicos, é possível que os casais teuto-africanos enfrentem preconceitos ou estejam sob suspeita de estarem casados pró-forma, apenas para a obtenção de um visto no país para o cônjuje estrangeiro.