Franz Müntefering: Partido Social Democrata vencerá a crise
22 de março de 2004O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, despediu-se da presidência de seu partido com um discurso emocionado e lágrimas nos olhos. Durante a convenção extraordinária do Partido Social Democrata (SPD), neste domingo (21), em Berlim, ele agradeceu a seus correligionários e à esposa, Doris, pelo apoio nos últimos cinco anos.
Schröder tinha a voz embargada, ao dirigir-se diretamente a Doris, lembrando haver desempenhado o cargo "em tempos danados de difíceis", sustentado "por quem eu amo e sou amado". Ele confessou não ser fácil despedir-se do comando do SPD, e que tivera orgulho em dirigir "o maior e mais antigo partido democrático da Alemanha", na linha direta de August Bebel e Willy Brandt.
O premier assegurou que tentara preencher a função de líder partidário tão bem quanto possível, e reconheceu: "Para muitos, não fui um presidente fácil". Os delegados à convenção retribuíram a sinceridade de Schröder com quatro minutos de aplausos de pé.
Últimas conseqüências
Um de seus antecessores na liderança do SPD, Hans-Jochen Vogel, classificou o desempenho de Schröder no cargo como "extraordinário". A "pátria" do chanceler federal são os valores básicos social-democratas, afirmou. Ele exortou o partido a manter a coragem e coesão para as reformas que estão por vir. "Não podemos fugir da realidade, só por que ela não nos agrada", concluiu Vogel, que presidiu o SPD entre 1987 e 1991.
O anúncio de Gerhard Schröder, em 6 de fevereiro, de que abandonaria o comando de seu partido, foi inesperada, porém conseqüente. Ela veio em reação às crescentes críticas das bases partidárias contra as reformas da saúde e da previdência. Em meados de 2003, a resistência de seu partido contra o programa de reformas Agenda 2010 já levara o chanceler a uma ameaça de renúncia.
Nos últimos meses, muitos abandonaram os quadros do SPD. Como demonstram as pesquisas de opinião, a popularidade do partido diante do eleitorado atingiu um ponto crítico. Agora, a esperança social-democrata só tem um nome: Franz Müntefering. Para Schröder, "o melhor para ocupar este cargo em nosso partido".
Clareza de valores
A votação do domingo comprovou que Müntefering tem o apoio maciço de seus correligionários: 95% dos presentes o escolheram, aplaudindo com entusiasmo o anúncio do resultado. Mas nem tudo é festa, e logo o líder da bancada social-democrata no Bundestag (Parlamento federal) exortou o partido a um debate honesto e a encarar o fato que o velho Estado social não mais se sustenta na Alemanha.
O novo presidente do SPD lamentou que nesta fase de reorientação faltem autoridades a mostrar o caminho. A clareza quanto aos valores políticos deve voltar a imperar. Müntefering sublinhou que não deseja "um partido tranqüilo", mas sim um SPD que negocie em conjunto sobre os pontos de dissensão. Ele mostrou-se confiante de que seu partido vencerá a crise.
O político de 64 anos aproveitou para dirigir-se ao empresariado: muitas firmas enriqueceram na Alemanha, agora está na hora de encarar sua responsabilidade, não batendo em retirada "por causa de benefícios de 2,50 euros". Aos sindicatos, ofereceu colaboração estreita, mas acentuou: "Não somos um partido sindicalista".
Não é a primeira vez –
Schröder não é o primeiro líder social-democrata forçado a interromper o mandato. Dentre os oito presidentes do SPD desde o final da Segunda Guerra Mundial, Willy Brandt, Björn Engholm, Rudolf Scharping e Oskar Lafontaine também tiveram o mesmo destino.Com cinco anos incompletos na presidência do partido, Schröder ocupa o quarto lugar, em termos de permanência no cargo, após Kurt Schumacher (1946-1952), Erich Ollenhauer (1952-1963) e Willy Brandt (1964-1987).