1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Antes e depois de Gênova

(ce/as)26 de maio de 2007

Acontecimentos violentos ocorridos na cidade italiana em 2001 tiraram os encontros do G8 dos grandes centros urbanos e levaram a mudanças nas estratégias dos críticos da globalização.

https://p.dw.com/p/AjP1
Um manifestante joga pedras contra policiais durante encontro do G8 em Gênova, em 2001Foto: AP

Quando o ativista antiglobalização Carlo Giuliani morreu, os protestos silenciaram por alguns dias. Afinal, as cercas altas e os 18 mil policiais que protegiam Gênova estavam ali para evitar uma escalada da violência durante o encontro do G8 em 2001. O governo italiano chegou mesmo a suspender o Acordo de Schengen, que prevê a livre circulação de pessoas entre os países signatários, e controlou suas fronteiras de forma rígida.

Ainda assim, a situação saiu de controle após dois dias. Centenas de bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas sobre os manifestantes. E um policial atirou em Giuliani, matando o jovem ativista de 23 anos. Mais tarde, em torno de 900 pessoas detidas pela polícia afirmaram terem sido torturadas na prisão de Bolzaneto. Um cenário próximo ao de uma guerra civil.

Batalha de Seattle

Os acontecimentos de Gênova haviam sido precedidos de protestos cada vez mais violentos. Já em 1999, durante as primeiras grandes manifestações que ficaram conhecidas como a Batalha de Seattle, manifestantes e forças de segurança protagonizaram cenas de selvageria nas ruas.

The Battle of Seattle
Polícia reprime protesto em Seattle, em 1999Foto: AP

Cerca de 50 mil ativistas críticos à globalização se reuniram na cidade americana para protestar contra a Rodada do Milênio da Organização Mundial do Comércio (OMC). E com sucesso. O evento de abertura ocorreu num salão vazio. Ao lado de milhares de sindicalistas dos Estados Unidos e do Canadá, estiveram presentes representantes dos mais diversos movimentos da sociedade civil, desde organizações ambientais e de direitos humanos até anarquistas.

Para o cientista político Elmar Altvater, da Attac, a grande afluência de pessoas tão distintas tinha apenas um objetivo: "Formou-se uma coalizão de interesses bastante diferentes, mas de participantes que poderiam ser prejudicados pelas regras de livre comércio da OMC".

Depois dos protestos de Seattle, os ativistas críticos à globalização não perderam mais nenhuma oportunidade de manifestar publicamente suas reivindicações durante encontros da OMC, da Otan, do Fórum Econômico Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do G8.

Isso quando não tentaram impedir a realização desses eventos. Foi o que aconteceu em Praga em 2000, quando o encontro anual do FMI e do Banco Mundial teve de ser interrompido após manifestantes terem sitiado o local onde ele se realizava.

Novas estratégias

Os acontecimentos trágicos de Gênova levaram a uma mudança de estratégia em ambos os lados. Os encontros de cúpula deixaram os grandes centros urbanos e foram para a província. Locais de difícil acesso, como Evian, nos Alpes franceses, ou Kananaskis, nas montanhas canadenses, foram escolhidos para evitar protestos, diminuir a visibilidade do evento e reduzir os custos com segurança.

G8 Gipfel in Kananaskis Kanada
Kananaskis, no Canadá, sede do encontro do G8 de 2002Foto: AP

O número de manifestantes realmente diminuiu. No encontro da OMC no Catar, praticamente não ocorreram protestos. Mas também a estratégia dos ativistas mudou. Se, antes de Gênova, eles tentavam atacar os locais dos encontros, hoje eles tentam bloquear os poucos caminhos que levam ao local. Mas os choques violentos ainda persistem.

Hora de tomar a iniciativa

Mas, além dos manifestantes que optam pelos confrontos com a polícia, há também os que procuram atenuar os protestos e conduzir as críticas em outro nível. Essa é principalmente uma opção de intelectuais de esquerda. Com shows, encontros e caminhadas pacíficas, eles conseguem oferecer uma forma alternativa de protesto, que atrai os críticos da globalização que não estão interessados na violência.

Friedensmarsch von 200.000 Menschen eröffnet Weltsozialforum
Passeata de abertura do Fórum Social Mundial de 2005, em Porto AlegreFoto: dpa

Em 2001, foi organizado em Porto Alegre o primeiro Fórum Social Mundial, com o objetivo de ser um contraponto aos encontros dos defensores da globalização. Sob o slogan "Um outro mundo é possível", os organizadores pretendem conectar movimentos "que por meio de ações concretas tanto em nível local como internacional, contribuam para construir um outro mundo". O Fórum Social Mundial acontece anualmente desde 2001. Porém, a intenção é que ele não fique restrito aos encontros, mas seja um "processo permanente de busca e construção de alternativas".

Alvater considera um ponto fraco o fato de os movimentos críticos à globalização terem sempre se orientado pelos grandes eventos dos defensores da globalização. "Está na hora de tomar a iniciativa e passar a agir e não apenas a reagir."

Para o encontro de Heiligendamm, os críticos já anunciaram protestos. Além de uma grande manifestação em Rostock, haverá também ações sobre temas como militarismo e agricultura, shows e um congresso alternativo. Segundo Altvater, "é sempre necessário voltar a conscientizar as pessoas".