Futuro peruano
7 de junho de 2011O discurso fortemente nacionalista empregado no primeiro turno da campanha eleitoral criou temores, e o apoio humano e material do presidente venezuelano, Hugo Chávez, alimentou dúvidas entre alguns peruanos sobre o governo do militar aposentado e doutor em ciências políticas Ollanta Humala.
Há, porém, muitos tipos de nacionalismo, como disse à Deutsche Welle Anna Ayuso, especialista em América Latina do Centro de Estudos Internacionais em Barcelona. "Embora esta linha seja inseparável do discurso de Humala – e está presente em muitos dirigentes latino-americanos –, ele tentou diminuir seu nacionalismo excludente", avaliou Ayuso.
Dessa forma, alguns termos foram evitados no último trecho da campanha para chegar à presidência. Um deles é "nacionalização". No entanto, Humala falou de uma maior regulação estatal e que as exportações sejam revertidas para as políticas públicas. "Isso assustou alguns investidores, que temem haver um maior controle", explicou a pesquisadora, que disse acreditar que o presidente eleito vá se esforçar para implementar medidas sociais.
Do "chavismo" ao "lulismo"
Segundo Ayuso, Humala deverá cumprir sua promessa de campanha e "seguir provavelmente as políticas do Brasil e de outros países vizinhos em relação à luta contra a pobreza, e fará com que tais medidas cheguem aos lugares mais pobres da zona rural, a região menos beneficiada pelo enorme crescimento que o Peru vem tendo. Isso representaria um pequeno esforço fiscal".
Em sua campanha, Humala se apresentou como o Lula do Peru, deixando para trás a opção pelo controverso socialismo do século 21 do presidente venezuelano. Assim, para alcançar seu objetivo, Humala abdicou, ao menos verbalmente, de alguns fardos bem pesados: seu plano de uma reforma constitucional e a possibilidade de reeleição.
"Isso explica", diz Ayuso, "porque uma parte da classe média acabou votando nele". Ele também teve que suavizar sua posição contrária aos tratados de livre comércio que o Peru tem com os Estados Unidos e com a União Europeia, este recém-firmado. O presidente eleito prometeu respeitar os acordos internacionais, "o que não significa que não vá tentar implementar condições ou requisitos adicionais que tratem de compensar o que ele classifica como danos para o Peru", assinala Ayuso.
Apoio para governar
Quanto a reformas de maior profundidade, que incluam mudanças estruturais na produção e na divisão da renda, Ayuso comenta que serão muito difíceis de serem implementadas. "Ele vai enfrentar a resistência de alguns setores de muita concentração de poder que estão basicamente em Lima, onde não tem apoio".
Acrescenta-se a isso o fato de que Humala – que já representou a ideia de um Peru com os limites incas – governará com metade do país contra si e sem maioria no Congresso. Então, é óbvio que ele terá que fazer alianças.
"Temos que ver que postura assumirão as oligarquias e em que medida os meios de comunicação – que pertencem em grande parte aos oligarcas – tratarão de desestabilizar o governo. Ele vai ter que lidar com vários setores. Isso não é fácil", disse a pesquisadora, assinalando que o ex-presidente Alejandro Toledo, um dos adversários do primeiro turno, provavelmente se tornará aliado.
Quanto à integração regional, o apoio do Brasil parece estar assegurado, também o de Mauricio Funes em El Salvador, o de Fernando Lugo no Paraguai, o de Evo Morales na Bolívia, e o de Chávez na Venezuela. "Se mantiver a linha moderada, pode ser um exemplo para melhorar as relações regionais", prevê Ayuso.
Sombras do passado
No entanto, o comandante Ollanta Humala – sobre o qual paira a acusação de violações de direitos humanos anteriores à sua carreira política – chega ao poder principalmente devido ao fato de sua adversária ser filha do agora encarcerado Alberto Fujimori.
"Enfrentar o problema da corrupção que está vinculado ao narcotráfico será um desafio. O 'fujimorismo' – que escreveu uma das páginas menos brilhantes da história do Peru – tem suas raízes na manutenção dos mecanismos de controle através de redes de corrupção. Esse é o grande desafio de Humala", opinou a analista política. "Creio que vai ser difícil e que as reações serão violentas, caso a base seja atacada. Mas é possível conseguir alguns avanços, começando pela melhora da administração da Justiça", concluiu.
Autora: Mirra Banchón
Revisão: Alexandre Schossler