Maduro eleva ainda mais pressão sobre oposição
10 de maio de 2019A detenção do vice-presidente da Assembleia Nacional (Parlamento) da Venezuela, Edgar Zambrano, na quarta-feira (08/05), elevou os temores de uma ampla repressão da oposição por parte do regime do presidente Nicolás Maduro.
Na sexta-feira passada, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Venezuela acusou Zambrano e outros nove parlamentares dos crimes de traição à pátria, rebelião e conspiração por terem apoiado uma tentativa de derrubar Maduro, liderada pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó, que preside a Assembleia Nacional.
Em seguida, a Assembleia Constituinte, que é constituída unicamente por representantes do próprio regime e que não é reconhecida internacionalmente, levantou a imunidade dos deputados.
Ao fim do dia de quarta-feira, Zambrano foi detido por funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência da Venezuela (Sebin) quando se encontrava dentro do seu carro, à porta da sede do partido Ação Democrática, em Caracas. Como ele se recusou a sair do carro, a polícia rebocou o veículo para a prisão do Sebin.
Em 30 de abril, Zambrano aparecera publicamente em Altamira (leste de Caracas), ao lado de Guaidó e do político opositor Leopoldo López, apelando à população para ir às ruas para pressionar pela saída de Maduro.
Na quinta-feira, os deputados opositores Mariela Magallanes, Americo de Grazia e Richard Blanco, acusados de rebelião, comunicaram que se refugiaram nas embaixadas da Itália (os dois primeiros) e da Argentina (o terceiro) em Caracas, depois de terem perdido suas imunidades parlamentares.
López, libertado a mando de Guaidó depois de três anos numa prisão militar e dois em regime de prisão domiciliar, se refugiou na casa do embaixador da Espanha.
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) venezuelano no exílio condenou o fim da imunidade parlamentar de deputados da Assembleia Nacional, argumentando que as decisões do STJ "usurpado" em Caracas e da "fraudulenta" Assembleia Constituinte "são nulas".
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, exigiu na quinta-feira a libertação imediata de Zambrano, afirmando que a "detenção arbitrária" do vice-presidente do Parlamento é "um ato inaceitável e ilegal que reflete mais uma vez a repressão do regime de Maduro".
"Esse é um ataque à independência do poder legislativo democraticamente eleito no país e faz parte dos constantes ataques do regime Maduro para esmagar o livre debate na Venezuela", declarou Pompeo.
A prisão de Zambrano e o fim da imunidade parlamentar de deputados oposicionistas são o mais recente passo no embate entre os lados liderados por Maduro e Guaidó, que tentam garantir o apoio dos militares. Apesar de algumas deserções, as Forças Armadas seguem ao lado do líder chavista.
Guaidó afirmou que a detenção foi um ato de desespero de um governo que não sabe em quem confiar e uma tentativa "de fazer crer que tem um controle que na verdade já não tem".
"Trata-se de terrorismo de Estado contra os deputados. O sequestro do vice-presidente da Assembleia Nacional, única instituição venezuelana reconhecida internacionalmente, é um golpe de Estado continuado", afirmou.
Guaidó, que tem o apoio dos Estados Unidos, da União Europeia e de potências regionais, como o Brasil, convocou a população para novos protestos no próximo sábado, numa aparente demonstração de que confia que o apoio dos EUA impedirá o regime de prendê-lo.
O governo do presidente Donald Trump alertou Maduro de que haverá consequências se Guaidó for preso. Maduro acusa Guaidó de preparar um golpe de Estado com o apoio dos Estados Unidos.
O presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, tido como o número 2 do chavismo, sugeriu que o regime não tem pressa e que haverá medidas contra outros políticos da oposição venezuelana.
Ele também advertiu os países que condenaram a detenção de Zambrano para que não se intrometam nos assuntos internos venezuelanos. "Qualquer ato de agressão contra a Venezuela terá uma resposta imediata", disse.
"A Justiça está funcionando, mas os tempos da Justiça não são os tempos da política, nem os meus tempos, nem os tempos que eu queira. Não! Os tempos da Justiça são os tempos da Justiça", declarou.
AS/ap/lusa/efe
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