Medvedev na Alemanha
5 de junho de 2008O presidente russo, Dimitri Medvedev, está convicto de que a continuada expansão da Otan para o Leste pode comprometer "de forma radical" as relações entre a Rússia e o Ocidente. Medvedev alertou que, com tentativas de expandir as fronteiras da aliança em direção à Rússia, "nossas relações serão minadas, comprometidas de uma forma radical por um longo tempo".
As declarações foram feitas nesta quinta-feira (05/06) em Berlim, palco da primeira visita oficial de Medvedev a um país europeu, desde sua posse, em maio. O sucessor de Vladimir Putin sugeriu a criação de um novo pacto de segurança na Europa para substituir tratados criados na Guerra Fria.
"Nas condições atuais, nas quais ninguém quer guerra na Europa e todos têm a experiência do século 20, tal acordo teria todas as chances de dar certo", disse ele. A perspectiva de ver a Otan – criada na Guerra Fria como um contraponto ao poderio da União Soviética – incorporar países que Moscou ainda vê em sua esfera de influência, irritou o governo nos últimos anos.
Gasoduto na ordem do dia
Na coletiva de imprensa concedida após as conversas com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, Medvedev também se disse preocupado com o endurecimento das relações entre a Rússia e a Europa. Ele mostrou vontade de estreitar os laços com a União Européia, "principal parceiro comercial da Rússia", e fez campanha em prol do gasoduto que deve levar gás natural da Rússia para a Europa Ocidental – tendo a Alemanha como porta de entrada – a partir de 2011.
O presidente russo propôs um consórcio internacional para operar o controverso gasoduto planejado para ligar a Rússia à Europa Ocidental. O consórcio incluiria companhias russas, européias e de países que o gasoduto atravessasse.
Angela Merkel declarou apoio ao gasoduto. "Vou promover este projeto, que é do interesse de muitos países", declarou Merkel, acrescentando que lutaria para "superar todas as objeções". O projeto causa o furor em países como Ucrânia e Polônia, que vão perder lucrativas taxas cobradas pelo transporte feito por seus territórios, e é alvo de protestos de grupos ambientais.
Acordo UE-Rússia
Merkel pronunciou-se a favor da conclusão, o mais rápido possível, de negociações para estabelecer uma parceria entre a União Européia e a Rússia. As negociações, por muitas vezes adiadas, devem ter início num encontro na Sibéria no fim de junho, e terão acordos energéticos no topo da agenda, num momento em que cresce a dependência européia em relação ao petróleo e gás russos.
Medvedev se disse preocupado com um endurecimento da Europa perante a Rússia. "A tendência a um enfraquecimento na compreensão mútua nos preocupa, principalmente em questões de segurança global e européia", declarou.
O presidente mostrou irritação ao ser questionado pela prisão de Mikhail Khodorkovsky, um crítico do Kremlin e ex-magnata do petróleo. "Questões relacionadas ao cumprimento de sentenças não deveriam se tornar tema de negociações entre dois países." Khodorkovsky está preso desde 2005, quando foi condenado, durante o governo Putin, por fraude e sonegação de impostos.