Um ano de moratória da soja
24 de julho de 2007A destruição da Floresta Amazônica diminuiu desde a decretação da moratória no desmatamento para plantio de soja na região há um ano, segundo um balanço publicado nesta terça-feira (24/07), em São Paulo e Hamburgo, pela organização ambientalista Greenpeace.
Segundo a entidade, no Mato Grosso, estado campeão do desmatamento no passado, foram desmatados nos últimos 12 meses "apenas" 239 mil hectares contra 400 mil no período anterior. Em Santarém (PA), a área de cultivo da soja diminuiu 41%, ou o equivalente a 40 mil campos de futebol.
"Isso é uma esperança para a proteção da biodiversidade, do clima mundial e das pessoas que vivem na região", disse Oliver Salge, perito em florestas do Greenpeace, em Hamburgo, à DW-WORLD. Segundo ele, o Greenpeace e várias empresas do setor alimentício da Europa defendem a prorrogação da moratória para além dos dois anos previstos.
Pacto inédito
Diante da pressão nacional e internacional de ambientalistas, redes de supermercados e de fast-food, os grandes conglomerados do comércio mundial de cereais fecharam um acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) pelo qual se comprometeram a não mais comercializar soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 24 de julho de 2006.
A Abiove e a Anec representam 92% das empresas do complexo de produção da soja brasileira, cujas exportações (de 11,8 bilhões de dólares só nos primeiros cinco meses deste ano), respondem por cerca de 10% das receitas cambiais brasileiras por ano (veja gráfico). Em 2006, o Brasil teve uma safra recorde de soja, com 52,4 toneladas colhidas, segundo o IBGE,
O presidente da Abiove, Carlo Lovatelli, disse nesta terça-feira que "o setor decidiu assumir o compromisso da produção responsável por entender que esta é uma demanda do consumidor, a qual já foi incorporada à especificação da soja e produtos. Estamos dispostos a enfrentar questões complexas de forma a alcançar um futuro de competitividade com equilíbrio sócio-ambiental."
Na opinião de Salge, "só o acordo em si já é um grande sucesso e representa para a floresta tropical uma pausa para respirar. Quarenta por cento menos florestas foram destruídas no último ano na região. Isso também é um sucesso da moratória da soja".
Ele disse que dois terços da produção brasileira de soja ainda vêm de propriedades ilegais. O governo alemão, segundo ele, deveria ajudar principalmente através da cooperação técnica na elaboração de mapas de satélite, para monitorar a destruição da floresta e montar um cadastro de propriedades da região. "Nisso a Alemanha tem experiência e pode ajudar", disse.
Salge cobrou também do governo alemão a liberação de mais recursos para a criação de áreas de proteção florestal na Amazônia. "A Alemanha se comprometeu a investir cerca de 1 bilhão de euros por ano na proteção das florestas mundiais. E esse dinheiro também precisa ser liberado", afirmou.
Apoio da GTZ
Helmut Eger, encarregado da Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) para o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), também classificou o balanço de um ano da moratória da soja como "uma das boas notícias da Amazônia" e disse que uma prorrogação da medida seria bem-vinda.
"O desmatamento da Amazônia caiu à metade nos últimos dois anos, de 26 mil km2 quadrados para 13 mil km2. Para isso, contribuíram tanto as políticas brasileiras, como o plano antidesmatamento e o Plano Amazônia Sustentável (PAS), quanto o apoio internacional, por exemplo, através do PPG-7", disse à DW-WORLD.DE.
Segundo Eger, no âmbito do PPG-7, criado em 1990, o governo alemão – maior doador internacional do programa – já cooperou com cerca de 300 milhões de euros para a implementação de projetos de nível local, estadual e nacional, além de prestar ajuda aos outros países do Pacto Amazônico.
Através da cooperação Brasil-Alemanha, mais de 500 organizações e grupos já receberam apoio, muitos deles diretamente da GTZ, para testar e propagar modelos de uso sustentável da água, da floresta e do solo da Amazônia, informou a agência alemã.
"Nos últimos dez anos, focalizamos muito o desenvolvimento da monitoração, que é o principal instrumento propagado pela moratória da soja, mas também o gerenciamento de recursos naturais e a manutenção do solo. Através das instituições brasileiras, toda essa experiência pode ser aplicada nessa moratória", explicou.
Eger disse ainda ter uma outra "boa notícia da Amazônia, que merece ser divulgada no exterior: através de diferentes campanhas da sociedade civil e do governo, a consciência da importância da floresta tropical ganhou nos últimos anos uma grande visibilidade em todos os níveis de decisão no Brasil".