No 10º dia de guerra, fracassa acordo para evacuar civis
6 de março de 2022O décimo dia da invasão russa em território ucraniano, neste sábado (05/03), foi marcado pela frustração do plano de criar um corredor humanitário para evacuar 200 mil pessoas da cidade portuária de Mariupol, no sul do país, que está cercada por militares da Rússia.
A criação dos corredores humanitários para retirar moradores e permitir a entrada de medicamentos e comida em cidades cercadas havia sido combinada em uma reunião entre representantes ucranianos e russos na quinta-feira, em Belarus. Mariupol está sem energia elétrica, mantimentos, água e gás, em uma situação humanitária definida como "catastrófica" pela organização Médicos Sem Fronteiras, que disse ser urgente a evacuação de civis.
Contudo, a retirada dos moradores da cidade foi suspensa. O vice-prefeito de Mariupol, Serhiy Orlov, disse que o cessar-fogo acordado entre os dois países durou apenas 30 minutos e que a Rússia voltou a bombardear a cidade, inclusive pontos de encontro de pessoas que deveriam ser retiradas. O prefeito de Mariupol, Vadym Boychenko, afirmou que aviões russos também estavam sendo usados no ataque e lançando bombas em áreas residenciais.
Já um porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia disse que os batalhões ucranianos aproveitaram o cessar-fogo para "reagrupar tropas e reforçar posições".
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que participa das tratativas para criar os corredores humanitários, disse que prossegue em diálogo "com as partes sobre a passagem segura de civis de diferentes cidades afetadas pelo conflito". "As cenas em Mariupol e outras cidades são de cortar o coração. Qualquer iniciativa das partes que proveja aos civis um alívio para a violência e lhes permita partirem voluntariamente para áreas mais seguras, é bem-vinda."
Uma nova rodada de conversas entre representantes dos dois países deve ocorrer na segunda-feira.
Mais de 1,2 milhão de refugiados
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados afirmou que mais de 1,2 milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia rumo a países vizinhos. O pesquisador alemão Gerald Knaus, especialista em migração, estima que o número chegará a 10 milhões, no que ele considera a maior catástrofe de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, afirmou neste sábado que a crise humanitária e a saída em massa de refugiados da Ucrânia se agravará nos próximos dias, mas garantiu que a Romênia não fechará as portas para nenhum cidadão em fuga da guerra.
A União Europeia irá instalar um centro de logística na Romênia para acolher refugiados e fazer a gestão do envio de ajuda para o território ucraniano, e o bloco já aprovou a concessão de vistos de proteção para aqueles que estão fugindo da guerra.
Outros países vizinhos da Ucrânia, como a Polônia e a Moldávia, também estão se mobilizando para acolher os refugiados.
Russos seguem pressionando e ucranianos, resistindo
Os militares russos mantiveram a ofensiva militar para tomar a capital ucraniana Kiev e Kharkiv, no sul do país, segundo relatos divulgados pelas forças da Ucrânia, que disse que os ataques de Moscou contaram com apoio aéreo e armas de alta precisão.
As tropas russas também continuam tentando alcançar as fronteiras administrativas das regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, com a perspectiva de criar um corredor terrestre que possa ligar essas regiões à Crimeia, no sul do país.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que as forças russas, que já assumiram o controle de duas usinas nucleares no país, estão marchando em direção a uma terceira, a usina nuclear de Yuzhnoukrainsk, a cerca de 120 quilômetros ao norte de Mykolaiv
Ainda conforme o relatório do exército ucraniano, as forças de defesa continuam repelindo e impondo derrotas aos russos. De acordo com informações divulgadas pelo ministro da Defesa da Ucrânia, Olexii Resnikov, mais de 66 mil ucranianos que estavam no exterior retornaram ao país para lutar contra os russos.
Zelenski transmitiu um discurso em vídeo na noite de sábado em que pediu aos cidadãos do país que lutem para expulsar os militares russos. "Temos que ir para as ruas! Temos que lutar! Sempre que houver uma oportunidade", disse. Ele disse que civis desarmados vinham resistindo a unidades militares russas em diversas cidades, inclusive na cidade portuária de Kherson, no sul, o que torna a ocupação pelos invasores mais difícil.
Na cidade de Lviv, a poucos quilômetros da fronteira com a Polônia e relativamente poupada dos ataques, moradores se mobilizam para proteger a municipalidade e preparam barricadas.
Os Estados Unidos discutem com a Polônia a possibilidade de fornecer caças militares russos MiG29 e Su-25 para a Ucrânia. Em troca, as forças armadas americanas dariam aos poloneses jatos americanos F-16. A informação foi relatada por uma autoridade de defesa dos EUA à agência Dow Jones. A eventual operação ainda está em negociação e seus termos não estão claros.
Putin: zona de exclusão aérea seria participação no conflito
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que toda declaração, por países terceiros, de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia será considerada "participação no conflito armado". A Rússia vê "qualquer movimento nessa direção" como uma intervenção, representando "ameaça para os nossos militares" enfatizou. "Nesse mesmo segundo, vamos passar a vê-los como participantes do conflito militar, e não importa que membros eles sejam", completou.
Putin também criticou as medidas punitivas ocidentais contra Moscou, comparando-as a uma declaração de guerra à Rússia. "Essas sanções que estão sendo impostas equivalem a uma declaração de guerra, mas graças a Deus não chegou a isso", disse Putin em um discurso televisionado para pilotos da companhia aérea estatal Aeroflot.
Zelenski vem insistido junto à Otan para que imponha uma zona de exclusão aérea sobre seu país, advertindo que "todos que morrerem deste dia em seguida, terá sido também por sua causa". A organização transatlântica, porém, rejeitou o pedido e afirma que a medida poderia deflagrar uma guerra generalizada com a Rússia.
Secretário de Estado dos EUA na Ucrânia
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se neste sábado com o ministro do Exterior da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e disse que a Casa Branca estava fazendo o possível para apoiar a resistência contra a invasão russa.
Antes, Blinken também reuniu-se com o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, e o ministro do Exterior da Polônia, Zbigniew Rau, na cidade de Rzeszow, a cerca de 80 quilômetros da Ucrânia.
Blinken visitou ainda a fronteira polaco-ucraniana e visitou um centro de refugiados onde estão abrigadas cerca de 3.000 pessoas. O local funciona em um antigo shopping center em Korczowa, perto da fronteira com a Ucrânia.
No sábado, Zelenski também falou ao telefone com o presidente americano, Joe Biden.
Primeiro-ministro israelense em Moscou e Berlim
O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, se encontrou neste sábado, em Moscou, com Putin, para discutir a situação na Ucrânia, divulgaram fontes governamentais israelenses e russas. O encontro durou cerca de três horas.
Bennett viajou para Moscou no começo do dia, acompanhado do seu ministro Zeev Elkin, que fala russo. Bennett mantém boa relação com os dois países em guerra. Israel entregou ajuda humanitária à Ucrânia, mas mantém laços com a Rússia, de forma a garantir que a aviação israelense e russa não entrem em conflito na Síria.
Em seguida, Bennett falou com Zelenski pelo telefone e seguiu para a Alemanha, para uma reunião de cerca de 90 minutos com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz. O porta-voz de Scholz, Steffen Hebestreit, afirmou que o objetivo segue sendo encerrar a guerra na Ucrânia o mais rápido possível.
A Ucrânia pediu que Bennett desempenhe funções de mediador no conflito, segundo a agência AFP.
bl (AP, AFP, Reuters, ots)