O Brasil na imprensa alemã (19/05)
19 de maio de 2021Tagesschau – O Brasil e a pandemia: minimizar e bloquear (19/05)
Já é sabido que o chefe de Estado brasileiro minimizou o perigo do coronavírus desde o início da pandemia e protestou contra as medidas de isolamento social destinadas a desacelerar a propagação da covid-19. Um lockdown colocaria a economia em risco, argumentou. Por mais de um ano, as cenas se repetem: Bolsonaro se encontra com o núcleo duro de seus apoiadores, que acreditam que as medidas de contenção são uma estratégia dos oponentes do presidente para enfraquecê-lo. No meio de multidões – geralmente sem máscara –, Bolsonaro ergue crianças para o alto.
Agora, uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) no Senado está trazendo mais detalhes à tona. O primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, disse que o presidente tinha um "órgão consultivo paralelo" para o setor de saúde que frustrou os esforços de contenção da pandemia do próprio Mandetta. Já o ex-secretário de comunicação de Bolsonaro [Fabio Wajngarten] disse aos investigadores que, em 2020, uma oferta de vacina da Pfizer foi ignorada pela administração de Bolsonaro por semanas. A farmacêutica ficou dois meses sem receber resposta. O chefe da Pfizer na América do Sul disse à CPI que o Brasil poderia ter recebido 70 milhões de doses de vacinas no ano passado. Mas Bolsonaro recusou. Apenas meses depois, em 2021, o governo brasileiro ordenou mais de 100 milhões de doses da vacina. Como resultado, foram perdidos valiosos meses na luta contra a pandemia.
Bolsonaro provavelmente não precisa temer consequências políticas por causa da CPI. Um processo de impeachment parece improvável. Já para as eleições de outubro de 2022, o cenário parece desolador para o presidente. De acordo com pesquisas mais recentes, seus índices de aprovação estão caindo – provavelmente também devido às revelações da CPI, que têm dominado o noticiário na televisão todas as noites.
Der Spiegel – A cidade socialista modelo (18/05)
Quando a caixa de supermercado Agnes Marques Ferreira perdeu o emprego em janeiro, o governo de sua cidade natal, Maricá, salvou-a da miséria: a princípio, pagando-lhe uma renda básica mensal de 900 reais. Só com este dinheiro, a jovem dificilmente poderia manter a si mesma e seus dois filhos que cria sozinha. Mas ela também paga 20% menos por água e eletricidade. Os ônibus de Maricá circulam de graça. E se ela precisar reformar seu banheiro, pode se inscrever para um empréstimo sem juros na prefeitura.
O local que concede tais benefícios fica a cerca de 60 quilômetros a leste do Rio de Janeiro, na costa atlântica. Maricá é como uma ilha no Brasil do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro. A comunidade de 160 mil habitantes está há 12 anos nas mãos do PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo se tornado um campo de experimentação de uma nova política social voltada para a igualdade de oportunidades e a integração.
Em Maricá se tornou realidade o que está sendo discutido como modelo em muitas partes do mundo, principalmente para o período pós-coronavírus: uma renda básica incondicional, transporte público gratuito e saúde abrangente e gratuita. Cientistas sociais, economistas e políticos de todo o mundo estudam o exemplo de Maricá.
FAZ – Povo yanomami ameaçado (14/05)
Vários barcos se aproximam da comunidade yanomami Palimiú. Um dos moradores filma os acontecimentos com seu celular. Então, tiros são disparados, desencadeando pânico. Os indígenas se defendem [...] Um dia depois, novos disparos no rio Uraricoera, desta vez respondidos por uma unidade da Polícia Federal.
Os agressores vinham de um acampamento de garimpeiros nas redondezas, um dos incontáveis no território yanomami, que, com quase 100 mil km², é a maior terra indígena do Brasil. Há décadas que os cerca de 27 mil yanomami remanescentes têm lutado contra invasores, que buscam sobretudo ouro. Impulsionado pelo alto preço do metal e pela falta de controle das autoridades, o número de garimpeiros ilegais na área aumentou para mais de 20 mil nos últimos anos, causando danos ambientais, epidemias e conflitos com os indígenas. Os garimpeiros também levaram o coronavírus.
Entre os agressores da comunidade Palimiú não havia apenas garimpeiros, mas provavelmente também membros do Primeiro Comando da Capital (PCC). A organização criminosa com sede em São Paulo assumiu o controle do contrabando em Roraima. O estado brasileiro e parte do território yanomami fazem fronteira com a Venezuela, de onde são contrabandeadas drogas, armas e ouro ilegal para o Brasil.
Ligações entre contrabandistas, organizações criminosas e garimpeiros são um perigo adicional para os indígenas.A própria presença dos garimpeiros se tornou uma ameaça constante. Há anos que os ianomâmis lutam para expulsá-los de seu território. O Ministério Público também alertou sobre o aumento dos conflitos violentos entre garimpeiros e povos indígenas.
Já no ano passado houve um conflito armado em que dois indígenas foram mortos. Neste ano, a pedido do Ministério Público, a Justiça Federal de Roraima ordenou à União que retirasse os invasores do território ianomâmi. Até agora, o governo ignorou a decisão. O presidente Jair Bolsonaro confraternizou com os garimpeiros em várias ocasiões, chamando-os de "pessoas honestas". Vários projetos de lei no Brasil querem abrir os territórios indígenas à mineração.
ip/lf (ots)