Opinião: Turquia desafia razão ao apostar na energia nuclear
22 de abril de 2015A Turquia está totalmente fixada em adotar a energia nuclear. Todo argumento em contrário, seja dito ou escrito, é rechaçado categoricamente. Há pouco foi lançada a pedra fundamental da primeira usina atômica na Anatólia, que, segundo os planos, deverá abastecer o país a partir de 2020. Duas outras instalações também já estão decididas há bastante tempo, segundo a meta de – na contramão de tudo o que seja racional – cobrir a maior parte da demanda energética turca com reatores nucleares.
A primeira usina, em Akkuyu, no sul do país, será construída pela Rússia, a próxima, em Sinop, no litoral do Mar Negro, norte da Anatólia, constroem os japoneses. Um terceiro contrato, em local ainda desconhecido, caberá igualmente ao Japão.
No entanto, Rússia e Japão são países com referências assustadoramente negativas em termos de tecnologia nuclear. As catástrofes de Chernobyl, na era soviética, ou de Fukushima, três anos atrás, estão longe de serem esquecidas. E suas sequelas ainda vão manter a esfera pública internacional em suspense por longo tempo.
Por que a Turquia não trilha o caminho da razão e opta pelo sol, o vento e pela água, tão abundante na Anatólia? Por que o país, que até o momento vinha se orientando pelas conquistas contemporâneas da Europa, se rebaixa ao nível das nações emergentes, apostando na fissão nuclear como fonte de energia para o desenvolvimento de sua economia e sociedade?
Os partidários da energia nuclear na Turquia apontam para a demanda nacional crescente. Trata-se uma fonte limpa, as usinas são seguras, e quem tem medo da radioatividade, no futuro também não deveria se submeter a raios X – argumentam especialistas de destaque, ao serem interrogados pelos jornalistas.
Contudo, os 20 mil mortos no grave terremoto de 1999 são a mais recente e cruel prova de que praticamente todo o território anatólio está ameaçado. Além disso, é fato comprovado que, utilizando-se fontes solares, eólicas e hídricas, seria possível produzir o equivalente ao triplo da atual demanda energética, a custo muito mais baixo e sem perigo para o meio ambiente.
Entretanto também é fato que a Turquia cobre cerca de 60% de sua demanda de gás e 30% da de carvão mineral recorrendo à Rússia, de onde também vêm cerca de 8% das importações turcas de petróleo. Até que ponto é sensato se entregar a tamanha dependência energética em relação a Moscou e, assim, colocar-se à mercê de um regime tão imprevisível?