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Opinião: Brexit deveria servir de reflexão à UE

17 de janeiro de 2017

Saída britânica lança grande questionamento sobre a União Europeia como ela é, e isso não é perigoso, mas saudável. Uma reflexão em Berlim e Bruxelas seria oportuna, afirma o jornalista Christoph Hasselbach.

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Christoph Hasselbach
Christoph Hasselbach foi correspondente da DW em BruxelasFoto: DW/M.Müller

A espera acabou. Finalmente, britânicos e europeus continentais podem ver como deverá ser a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Isso, por si só, já é um avanço. Por muito tempo, muitas pessoas depositaram esperanças em qualquer coisa, até mesmo num novo referendo que poderia reverter o Brexit.

Nos últimos meses, o debate girou em torno da possibilidade de os britânicos ficarem no mercado comum mesmo saindo da UE. A resposta europeia foi clara: não! O lema é: nada de escolher só o que convém e descartar as desvantagens – ou você está dentro ou você está fora. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, fez até mesmo uma advertência raivosa antes do referendo: "Desertores não serão recebidos de braços abertos."

Muitas declarações vindas de Bruxelas ainda passam a sensação de Schadenfreude (satisfação com a desgraça alheia), por exemplo com a queda da libra. Também parece haver um desejo de punir o Reino Unido. A intenção é, também, disciplinar os 27 membros restantes da UE. Mas, com isso, a UE só fortalece o euroceticismo e também prejudica a si mesma economicamente. Exportadores alemães em especial devem ter um interesse em manter o acesso ao mercado britânico sem barreiras alfandegárias – é um dos mercados mais importantes do mundo. Por exemplo, um em cada cinco carros alemães exportados vai para lá.

Os britânicos estão se vendo forçados a testar novos caminhos – e partem para a ofensiva. Eles querem deixar o mercado comum e oferecer à UE um tratado de livre comércio que mantenha o máximo das vantagens oferecidas pelo mercado comum europeu. O discurso da primeira-ministra Theresa May transmitiu uma impressão de orgulho e desafio. O Reino Unido não quer mendigar em Bruxelas. Em vez disso, quer se abrir para o mundo inteiro.

Convenientemente, o futuro presidente e simpatizante do Brexit Donald Trump e o governo em Londres já anunciaram a negociação de um acordo bilateral de comércio. Levando em conta as dificuldades intermináveis que a União Europeia enfrenta quando negocia acordos comerciais, parece concebível que outros países, como a China ou o Brasil, também virão a concluir acordos com o Reino Unido.

Poucos britânicos desejaram tudo isso. Aqueles que votaram pelo Brexit queriam controlar a imigração. E, ao contrário do que muitos pensam, não se trata apenas dos atuais cidadãos da União Europeia, mas também dos futuros. Antes do referendo, o então primeiro-ministro, David Cameron, foi repetidamente questionado sobre como ele pretendia impedir que os centenas de milhares de imigrantes que fossem se naturalizar na Alemanha acabassem se estabelecendo no Reino Unido, sem que o país pudesse exercer alguma influência nisso.

Ele não tinha uma resposta para isso. A política de migração descontrolada de Angela Merkel deve ter fornecido o percentual mínimo que pesou a balança para o lado do Brexit.

Mas a decisão sobre o Brexit foi tomada. Ainda assim, uma reflexão em Berlim e Bruxelas seria oportuna. A advertência de Juncker sobre a deserção evidencia também estupefação diante da ideia de que alguém possa querer dar as costas ao mundo belo e familiar de Bruxelas. Esse mundo nunca duvidou de si mesmo. A saída britânica lança um grande questionamento sobre a UE como ela é. Só que isso não é perigoso, mas saudável. A ideia europeia é um projeto fantástico. Mas esta não é uma ideia que se sustente por meio de pressão e sanções, mas pela sua própria atratividade.