Potencial desperdiçado: trabalhadores com mais de 50
25 de maio de 2004A dramática diminuição da população alemã representa um freio para o crescimento econômico, afirma um estudo do Instituto da Economia Alemã (IW). Nos próximos 50 anos, ele prevê uma taxa anual de crescimento de 0,9%, no máximo. Com a queda do número de nascimentos, diminuirá a população ativa. Isso poderia ser remediado se as empresas contratassem mais pessoas de idade. Mas isso é exceção na Alemanha: quem tem mais de 50 anos praticamente não tem chance no mercado de trabalho.
O perfil do trabalhador:
Criativos, flexíveis, disponíveis e principalmente jovens – esse é o perfil do funcionário que a maioria das firmas procuram em seus anúncios. Em nenhum outro país europeu há tamanho desperdício da força de trabalho dos mais velhos como na Alemanha. Somente 33% da faixa etária de 55 a 64 anos estão empregados. Em países como Suécia, Noruega e Suíça, 70% têm emprego.Regulamentação excessiva:
Para Lothar Funke, do IW, isso tem sua origem no sistema muito difundido de aposentadoria precoce e na rigidez dos acordos coletivos de trabalho na Alemanha. "Em comparação com o exterior, temos um mercado de trabalho regulamentado demais, o que diz respeito principalmente aos trabalhadores de mais idade.Eles se distinguem por receber durante muitos anos salário-desemprego, o que permite uma passagem direta à aposentadoria precoce. Além do mais, um trabalhador mais velho custa mais à empresa do que em outros países. Isso porque, via de regra, quem tem mais de 60 anos ganha cerca de 30% a mais do que um trabalhador entre 25 e 29 anos. Nesse aspecto, os custos do trabalho teriam que se adaptar melhor à situação na Alemanha", diz o especialista em mercado de trabalho.
Aposentadoria e estabilidade:
A aposentadoria na Alemanha é por idade (atualmente 65 anos para ambos os sexos), mas há programas especiais para aposentadoria antecipada a partir de 55 anos, no caso de desemprego longo, racionalização nas empresas ou exigências de qualificação relacionadas a novas tecnologias. A estabilidade no emprego, uma conquista trabalhista garantida pelo acordo coletivo, bem como o direito a mais dias de férias (até 31 dias úteis) fazem com que os trabalhadores mais velhos se transformem em uma carga para as empresas.Preconceitos sobre a idade: A isto é preciso acrescentar o preconceito de muitos patrões, de que os empregados mais velhos não seriam flexíveis e adoeceriam com maior freqüência. No entanto, a Alemanha não poderá mais dar-se ao luxo de aposentar antes da hora esse contingente de pessoas. Nos últimos anos, as taxas alemãs de crescimento são as menores da União Européia. E por causa do fator demográfico – diminuição da população – faltará mão-de-obra qualificada nas empresas.
Conseqüências:
As conseqüências serão graves, segundo o especialista do Instituto da Economia Alemã. Com um baixo crescimento nos próximos anos, os problemas irão agravar-se e, sem reformas profundas, o desemprego não diminuirá de forma significativa. Se a Alemanha continuar sendo o país dos aposentados precoces, não apenas diminuirá o crescimento, como se precipitará a falência da seguridade social, que agora já enfrenta um rombo atrás do outro.Novas medidas:
Aos poucos impõe-se a idéia de que foi errado alijar os mais velhos do mercado de trabalho. O governo alemão tomou as primeiras providências para corrigir o desvio. Nesse sentido, desde 2003 há facilidades para as empresas contratarem trabalhadores com mais de 52 anos, por um período determinado, sem precisar se ater às determinações de estabilidade. Pessoas com mais de 55 anos têm direito a receber salário-desemprego somente por um ano e meio. E a partir de 2008, só será possível aposentadoria antecipada aos 63 anos.A descoberta do potencial:
Por outro lado, as empresas também começam a descobrir o potencial dos "cinquentões". Otmar Fahrion, por exemplo, que tem uma firma de engenharia, contrata até quem tem mais de 60 anos. Quanto mais velho, mais experiente: "Os mais velhos têm uma formação mais geral. Isto é, possuem muita competência e a experiência de haver trabalhado em várias empresas, até em ramos diferentes. E então podem transferir soluções de um a outro ramo. Um engenheiro jovem não tem esse conhecimento prático".A Brose, fornecedora da indústria automobilística com sede em Coburg, também contratou propositalmente pessoal acima de 45 anos. "Não constatamos falta de flexibilidade. Pelo contrário, muitos moram em outras cidades e trabalham aqui. Há mais disposição também em realizar uma tarefa no exterior ou de passar uns tempos lá. E quanto à saúde e licenças médicas não fizemos nenhuma experiência negativa", disse à DW-RADIO a chefe do departamento pessoal, Esther Loidl.
As duas firmas, no entanto, são exceções. A União Européia fixou como meta integrar no mercado de trabalho, até 2010, pelo menos a metade da faixa etária de 55 a 64 anos. Assim, a Alemanha não poderá continuar desprezando esse potencial humano.