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EUA & Rússia

Christina Nagel (sm)3 de março de 2009

Presidente Obama se dispõe a desistir do sistema antimíssil planejado para o Leste Europeu se a Rússia persuadir o Irã a abandonar seu programa nuclear. Imprensa russa comenta os riscos de aceitar ou rejeitar proposta.

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Rússia e EUA, aproximação com desconfiançaFoto: AP

Em uma "carta sigilosa" ao presidente russo, Dimitri Medvedev, o presidente norte-americano, Barack Obama, fez uma proposta a Moscou: se a Rússia conseguir convencer o Irã a fazer concessões em seu programa nuclear, Washington se compromete a desistir de instalar um sistema de defesa antimíssil no Leste Europeu. Na mídia russa, a iniciativa de Obama gerou controvérsia.

Como o Kremlin não se pronunciou sobre a carta sigilosa do presidente norte-americano, a televisão pública russa também se calou sobre um eventual acerto com Washington. Mas os jornais russos já estão debatendo há muito tempo possíveis respostas do governo russo à nova tentativa de aproximação norte-americana.

Sistema antimíssil sobrecarrega EUA

Em princípio, a proposta naturalmente soa bem. Os Estados Unidos querem desistir de instalar um sistema de defesa antimíssil na República Tcheca e na Polônia. Isso era o que o Kremlin estava exigindo há muito tempo, pois o projeto era interpretado pela Rússia como uma ameaça.

Resta saber o preço disso. Será que, em troca, os russos deveriam pôr em jogo sua boas relações com o Teerã? E com isso perder seu influente papel de mediadores entre o mundo e o Irã?

Muitos especialistas acham que os EUA sob o presidente Obama desistiriam de qualquer forma do planejado sistema de defesa antimíssil. Não só por causa da grave crise financeira. Nas últimas semanas, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, manifestou diversas vezes um otimismo cauteloso em relação a isso. Em meados de janeiro, ele previra que o presidente Obama daria um tempo nesta questão, e não apenas por causa da crise financeira.

"Ele pretende analisar o projeto, averiguar sua eficiência e também os custos. Esperamos que, nesse processo, ele atente à proposta que a Rússia vem fazendo desde 2007, ou seja, criar um sistema comum entre russos, americanos e europeus."

Para Lavrov, no entanto, isso seria uma questão de estabilidade geoestratégica e não tocaria a política russa em relação ao Irã.

Abrir mão do que ainda não existe

Na Rússia, observadores políticos se sentem expostos pelo governo norte-americano. Nos jornais, eles comentam que os EUA estão abdicando de algo inexistente e exigindo, ao mesmo tempo, um alto preço.

Por quanto tempo os americanos se ateriam a esse acerto já é uma outra questão. Após a Rússia eventualmente comprometer de forma irreversível suas relações com o Irã, os Estados Unidos poderiam muito bem mudar de ideia.

Os comentaristas políticos russos ocasionalmente se remetem à expansão da Otan para o Leste, algo que inicialmente também estava fora de cogitação, mas agora – com os debates sobre o eventual ingresso da Ucrânia e da Geórgia – passou a constar da ordem do dia.

No papel de vilão

Por outro lado, não concordar com a proposta colocaria a Rússia novamente no papel de um país vilão, que se negaria a corresponder ao gesto de conciliação dos EUA. Sem falar que impedir um sistema antimíssil imediatamente próximo das fronteiras russas seria de enorme interesse para Moscou.

No momento, o próprio Kremlin está tentando ganhar tempo. Quando o ministro iraniano da Defesa, Mostafá Mohamad Najar, visitou Moscou, em meados de fevereiro, e lembrou que seu país está aguardando o planejado fornecimento de mísseis do sistema de longo alcance S-300, o governo russo não mencionou prazos. Neste ponto, pesam demais as relações russo-americanas, que – segundo Lavrov ressaltou diversas vezes – sofreram por muito tempo:

"Estamos abertos para um diálogo de igual para igual. Gostaríamos de assegurar relações contínuas com os EUA. Mas não como nos últimos anos. Isso não contentaria ninguém."

Mais igualdade de tratamento e mais respeito. Isso é o que deseja Moscou. O verdadeiro valor a ser dado às boas relações poderá ficar claro na sexta-feira, quando Lavrov se encontrará pela primeira vez com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.