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Recuo de Durão Barroso recebido com aplausos

av27 de outubro de 2004

Futuro presidente da Comissão Européia escapou de fiasco maior ao desistir de expor sua nova equipe ao veto certo do Parlamento Europeu. Esquerda e direita oscilaram entre o júbilo e o alívio pela decisão.

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Barroso e Prodi: futuro e presente da Comissão EuropéiaFoto: AP

O futuro presidente da Comissão Européia resistiu até o último momento, tentando impor seus candidatos contra a vontade do Parlamento Europeu (PE), para no fim recuar. Literalmente no último minuto, José Manuel Durão Barroso retirou nesta quarta-feira (27/10) sua proposta para a nova equipe de 25 comissários, escapando assim de um fiasco ainda maior.

No Parlamento, os ânimos estavam acirrados contra o ex-premiê português. Seis de seus candidatos estavam sob a mira da maioria dos deputados, em especial da esquerda, verdes e eurocéticos. E o PE só tinha a opção de aprovar ou rejeitar como um todo a equipe proposta pelo presidente da Comissão Européia.

Assim foi recebida com aplausos, no salão plenário da União Européia em Estrasburgo, a declaração de Durão Barroso de que recuava, pedindo tempo para reestruturar seu gabinete. Trata-se de um fato inédito na história da UE.

O liberal de direita de 48 anos calcula que precisará de algumas semanas para organizar seu novo gabinete. No meio tempo, a atual Comissão Européia continuará trabalhando sob a presidência do italiano Romano Prodi.

Sinais de alívio

Representantes da esquerda falaram entusiasmados de "uma vitória para o Parlamento e a democracia". Para o deputado alemão Daniel Cohn-Bendit, do Partido Verde, cinco ou seis dos comissários propostos "não são competentes". Ele aconselhou Durão Barroso – que em sua juventude foi maoísta – a consultar os escritos do revolucionário chinês Mao-Tsé-Tung: "Entender a derrota é preparar o caminho para a vitória", citou Cohn-Bendit.

O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, lamentou o desenrolar da disputa: "Não precisamos de um conflito entre instituições, mas sim de uma Comissão forte, apta a cumprir sua função". Seu ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, mostrou-se pragmático: "A questão não é se alguém foi derrotado ou não, mas sim, que se tome as decisões necessárias e que o Parlamento as possa ratificar".

O comissário para a Ampliação da UE, o alemão Günter Verheugen, não vê no recuo do futuro chefe da Comissão uma crise para o bloco europeu: "Na história da constituição da UE, este dia poderá ser visto como significativo e positivo". Verheugen também estava incluído na lista dos futuros comissários como responsável pela Indústria e Economia.

A seu ver, o PE faz uso dos direitos que antes lhes haviam sido negados: "E isso eu não posso criticar". Para ele, que sempre se bateu por um sistema parlamentar forte na UE, mais importante que o aspecto pessoal é o fato de a importância do Parlamento aumentar gradativamente: "Este Parlamento também é mais político do que antigamente", acrescentou Verheugen.

Dos males, o menor

Até mesmo representantes da ala conservadora, que prometeram votar a favor da equipe de Durão Barroso, mostraram-se aliviados com essa virada no drama Barroso-PE. Até eles tiveram que reconhecer que, dos males, o recuo do presidente designado foi o menor.

O presidente da Comissão para Assuntos Externos do PE, Elmar Brok, da União Democrata Cristã, falou numa grande vitória para o Parlamento. O chefe de bancada dos democrata-cristãos, Hans-Gert Pöttering, preferiu encarar o fiasco com otimismo: agora é a hora de ficar do lado de Barroso, para que este possa formar uma "comissão forte".

Embora o italiano Rocco Buttiglione seja a principal pedra no sapato do PE, por suas declarações reacionárias sobre homossexuais e mulheres, os conservadores têm outras preocupações, como o húngaro László Kovács. Indicado para a pasta da Energia, ele não só demonstrou falta de conhecimentos específicos sobre a área, como se recusou a encarar de forma crítica sua atividade de ministro do Exterior na Hungria comunista.