Comportamento
5 de dezembro de 2008Soldados marchando, canções de amor à nação e bandeiras ao vento foram, por longo tempo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tabu na Alemanha. Símbolos nacionais eram associados de imediato à ditadura nazista, que fez uso extremo dos mesmos para afirmar uma ideologia xenófoba e racista. O próprio Hitler costumava repetir que a bandeira alemã era um "símbolo sagrado" e não "um mero pedaço de pano".
A atual bandeira do país, em três cores – preto, vermelho e dourado – recorre à herança de 1848. Na Revolução de Março daquele ano, muitas pessoas foram às ruas, pedindo a unificação dos diversos principados localizados no território que hoje é a Alemanha. A bandeira, naquele contexto, exerceu um papel primordial, se tornando um dos principais símbolos do país recém-unificado.
Formas distintas
A exposição em Bonn conta esta evolução da relação dos alemães com a bandeira de forma cronológica. "Símbolos como o hino nacional ou a questão em torno de uma nova bandeira nacional são motivo de longas discussões.
Além disso, pode-se observar que as duas Alemanhas – Ocidental e Oriental – recorreram à tradição de 1848, mas de forma bem distinta: na Alemanha Oriental a referência eram as barricadas e a tradição revolucionária, enquanto na Alemanha Ocidental a referência era a tradição parlamentar da Igreja Paulskirche", explica Iris Bender, pesquisadora da Casa da História.
Ou seja, a Alemanha Oriental recorreu com freqüência a símbolos nacionais. "Tem que parecer democrático, mas precisamos ter o controle de tudo", rezava a máxima do ex-chefe de governo do país, Walter Ulbricht. Já na Alemanha Ocidental, o costume era evitar qualquer desfraldar de bandeiras nacionais. Bonn, como sede do governo, se tornou símbolo de um recomeço modesto, com governantes que evitavam muita pompa até mesmo nas cerimônias oficiais.
Alemanha reunificada
Somente a partir da reunificação alemã, em 1990, é que esses símbolos nacionais voltaram a ser usados sem muita cautela. Na exposição na Casa da História, há registros, por exemplo, da importância que o Portão de Brandemburgo ganhou por ter se tornado um símbolo da reunificação do país. "Trata-se, neste caso, do país reunificado e também de uma nova forma de lidar com as cores da bandeira, bem como uma nova relação com Berlim como capital de uma Alemanha reunificada", observa Corinna Tomberger, da Casa da História.
A mostra tematiza, entre outros, a construção de memoriais controversos no país, bem como o debate a respeito da reconstrução do Castelo de Berlim. Outro destaque é a ressurreição de um certo nacionalismo por ocasião da última Copa do Mundo, em 2006, realizada no país – um momento em que a população segurou bandeiras pelas ruas sem resistência.
Postura mais normal
Na opinião dos organizadores da exposição, está sendo constituído no país um novo patriotismo, isento de qualquer rastro dos abusos de símbolos nacionais cometidos durante o período nazista. "Tem-se a impressão de que a forma dos alemães lidarem com símbolos nacionais está um pouco mais livre e menos tensa. Pode-se até dizer mais normal", analisa Hans Walter Hütter, presidente da Fundação Casa da História.
O fato de até hoje haver extremistas fazendo uso indevido de símbolos como a bandeira e o hino para reafirmarem suas ideologias radicais também é lembrado num dos espaços da mostra em Bonn. Uma caminhada pela história que termina com os entusiasmados torcedores de futebol nas ruas durante a última Copa do Mundo.