Relações entre UE e entidades judaicas azedam
7 de janeiro de 2004"Surpreso e chocado", Romano Prodi suspendeu os preparativos para uma conferência que o órgão executivo da comunidade de 15 países ia promover em fevereiro em cooperação com entidades judaicas. Em carta endereçada aos presidentes do Congresso Mundial Judaico (WJC) e do Congresso Judaico Europeu (EJC), Edgar Bronfman e Cobi Benatoff respectivamente, Prodi declarou ver-se obrigado a tal decisão. Em artigo para o Financial Times e divulgado também na edição alemã do jornal britânico, Bronfman e Benatoff acusaram a União Européia de fomentar o anti-semitismo tanto ativa quanto passivamente.
Ainda em dezembro o presidente da Comissão Européia havia se encontrado com representantes do EJC para combinar a realização da conferência, que deveria ser um bom exemplo de como enfrentar conjuntamente e com discernimento a ameaça do anti-semitismo na Europa.
As pedras no sapato
Os autores do artigo no Financial Times basearam sua argumentação em dois fatos: uma pesquisa de opinião e um estudo, ambos realizados na União Européia no ano passado.
Numa das pesquisas de opinião que a Comissão Européia realiza regularmente, 59% dos entrevistados responderam que Israel é a maior ameaça à paz mundial, à frente do Irã, da Coréia do Norte e dos Estados Unidos. Já na época de sua divulgação, em novembro de 2003, a pesquisa provocou clamor generalizado.
Um estudo que o Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia (EUMC), sediado em Viena, encomendara alguns meses antes ao Centro de Pesquisa do Anti-Semitismo da Universidade Técnica de Berlim apontou uma relação entre o anti-semitismo na Europa e a multiplicação dos imigrantes muçulmanos. Por questionar a metodologia utilizada na realização do estudo, o EUMC resolveu não divulgar os resultados que, no entanto, foram colocados à disposição na internet por comunidades judaicas britânicas e francesas.
UE rechaça
Relembrando seu empenho pessoal no combate ao anti-semitismo, Romano Prodi rechaça em sua carta que a divulgação da pesquisa com os resultados negativos sobre Israel tenha tido "motivação política", como afirmam Bronfman e Benatoff. Tampouco a Comissão Européia teve qualquer influência sobre a decisão do EUMC, que é uma entidade independente, de não divulgar o estudo.
Segundo um porta-voz de Prodi, que considera "questionável" o aumento do anti-semitismo na Europa, agora "nem é certo" se a conferência planejada para fevereiro será realizada.