UE alerta que democracia na Venezuela está em risco
31 de julho de 2017Autoridades da União Europeia (UE) e de vários países expressaram preocupação nesta segunda-feira (31/07) com o futuro da democracia na Venezuela, um dia após as controversas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte no país sul-americano.
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As eleições foram amplamente criticadas pela comunidade internacional e denunciadas pela oposição como o último passo do governo do presidente Nicolás Maduro para consumar uma ditadura no país. O processo eleitoral foi marcado pela violência, com protestos sendo brutalmente reprimidos pelas forças de segurança.
"Os eventos das últimas 24 horas reforçaram as preocupações da União Europeia com o destino da democracia na Venezuela", afirmou a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva.
Segundo a porta-voz, a Comissão tem sérias dúvidas sobre a possibilidade de reconhecer a legalidade das eleições. "Uma Assembleia Constituinte eleita sob circunstâncias duvidosas e, com frequência, violentas, não pode ser considerada parte de uma solução."
Andreeva disse que a UE "condena o uso excessivo e desproporcional da força" por parte do governo e pede que todas as partes "se abstenham de atos violentos".
Apesar da proibição de manifestações durante as eleições, a oposição realizou diversos protestos pelo país e ergueu barricadas em ruas e rodovias. Alguns manifestantes atacaram locais de votação. As forças de segurança reagiram com rigor, chegando até a abrir fogo em algumas ocasiões.
O Ministério Público da Venezuela informou que investiga as mortes de dez pessoas ocorridas neste domingo. A oposição contesta os números e afirma que 16 pessoas morreram durante a jornada de protestos.
O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, denunciou o que chamou de eleição ilegítima e fraudulenta. "É um dia triste para a democracia na Venezuela, na América Latina e no mundo, com a violação de tratados internacionais e da própria Constituição da Venezuela, contra a vontade da própria população", disse Tajani após conversar com representantes da oposição venezuelana.
"Não vamos reconhecer essas eleições", afirmou. "Está claro que o regime atual tenta se agarrar ao poder. A vontade do povo venezuelano é de mudar o regime. É necessário que haja eleições [presidenciais] já."
Alemanha lamenta aprofundamento das divisões
O governo alemão condenou o uso desproporcional da força contra os manifestantes, afirmando que as eleições ocorreram em meio a um clima de violência sem as garantias democráticas necessárias de liberdade e confidencialidade dos votos.
Um porta-voz do Ministério alemão do Exterior disse que a votação serviu apenas para "dividir o país ainda mais" e tinha o propósito de "debilitar e desprestigiar" as instituições democráticas legitimamente eleitas.
"A escolha dos membros da Assembleia Constituinte não foi livre ou secreta, tendo violado, portanto, princípios democráticos essenciais", afirmou o ministério, lamentando que Maduro tenha levado as eleições adiante apesar dos inúmeros alertas da própria sociedade venezuelana e da comunidade internacional.
O governo alemão instou o presidente a realizar negociações sérias com a oposição, com a participação de mediadores da região, para que seja possível chegar a uma solução para a crise no país. O ministério lamentou o saldo de mais de 100 mortos desde o início dos protestos contra o governo de Maduro, em abril.
Washington condena "arquitetos do autoritarismo"
O governo dos Estados Unidos prometeu agir com rigor contra o que chamou de "arquitetos do autoritarismo" na Venezuela, qualificado a eleição de fraudulenta.
"Os EUA permanecem ao lado do povo da Venezuela e de seus representantes constitucionais em sua luta para recuperar seu país dentro de uma democracia plena e próspera", afirmou o Departamento de Estado americano em comunicado.
"Continuaremos a tomar ações rigorosas e imediatas contra os arquitetos do autoritarismo na Venezuela, incluindo os que participarem da Assembleia Nacional Constituinte que resultará dessa eleição fraudulenta", dizia a nota.
O principal órgão da diplomacia americana condenou a violência contra os manifestantes e convocou os governos da região e de todo o mundo a "responsabilizar os que sabotam a democracia, rejeitam os direitos humanos e são responsáveis pela violência e repressão ou os que se envolvem em práticas corruptas".
Os EUA se juntaram a Argentina, Peru, Colômbia e Panamá ao se recusaram a reconhecer os resultados das eleições. A embaixadora do país na ONU, Nikki Haley, afirmou por meio do Twitter que as eleições foram uma farsa e disse que o país caminhou "mais um passo rumo a uma ditadura".
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