Relações Transatlânticas
19 de abril de 2007Na 13ª Reunião Ministerial do Grupo do Rio, que se realiza de 17 a 20 de abril em Santo Domingo, capital da República Dominicana, ministros latino-americanos e da União Européia tratam de avançar, entre outros temas, nos acordos com o Mercosul e de desenvolver acordos estratégicos com a Comunidade Andina e o Grupo de São José.
Tanto o chefe da área de Política Externa da UE, Javier Solana, como a comissária de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, anunciaram o início da negociação de acordos com os diversos blocos regionais. A delegação européia é chefiada pelo ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, como representante da presidência rotativa do Conselho da UE.
Sobre a relevância e as expectativas do encontro, DW-WORLD conversou com o parlamentar europeu Wolfgang Kreissl-Dörfler, membro dos comitês encarregados das relações UE–Mercosul e UE–Comunidade Andina.
DW-WORLD: O que se pode esperar deste encontro?
Kreissl-Dörfler: Não se deveria esperar muito. Sentar para fazer avançar as negociações com o Mercosul e os demais países da América Latina não deixa, no entanto, de ser uma boa coisa. Os países latino-americanos são sócios naturais de alguns países europeus. É importante não somente olhar para a Ásia e a China. Neste sentido, queremos os acordos com o Mercosul a uma conclusão.
O objetivo oficial deste encontro é levar adiante as relações com o Mercosul e a Comunidade Andina. Até onde vai este "adiante"?
Adiante significa, para mim, que se firme um acordo econômico e que não se trate de estipular que coisa se deve exportar de que país e para onde. Pretendemos contribuir para a estabilização da região, cujas democracias são, em parte, bastante jovens. Ou seja, criar uma relação clara com a União Européia. Na minha opinião, um acordo de intenções poderia servir de base para este desenvolvimento.
Poderíamos determinar áreas de redução de tarifas alfandegárias e obter um maior bem-estar para ambas as partes. Poderíamos tentar diminuir as disparidades, o que exigiria que a União Européia cedesse em alguns aspectos.
Em suas últimas declarações, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, se declara decepcionado pelo pouco avanço em se chegar a um acordo entre a UE e o Mercosul. Alguns opinam que isto se deve à falta de coesão entre os países da região. Qual a sua opinião?
Observando o processo histórico da União Européia, nota-se que houve um motivo político para fundá-la naquela época. No Mercosul, há diferenças internas entre Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Venezuela... Primeiramente, estes países devem superar suas diferenças internas. Creio que o Parlamento do Mercosul será um passo adiante.
É tarefa do Mercosul, também de seu Parlamento, explicar a seus cidadãos o valor agregado que traria tal forma de associação. Ou seja, não somente uma cooperação econômica, mas também uma maior cooperação política. A UE é um bloco mais coeso e que já completou 50 anos. Provavelmente por isso, o Mercosul ainda não avançou muito. Mutuamente, todavia, se pode aprender muito.
E a comunidade Andina?
A Comunidade Andina é também um importante grupo. Temos que levar em conta que, agora, com as eleições no Equador e na Bolívia, há certo postos políticos que estão ocupados de maneira diferente, por exemplo, com o presidente Evo Morales. É muito importante que a União Européia coopere estreitamente com a Comunidade Andina, tanto como o faz com o México e a América Central. E, no caso de se unirem, quem sabe tendo como modelo a UE, é muito importante que lhe ofereçamos apoio.
O senhor diria, no entanto, que a Comunidade Andina tem mais coesão do que o Mercosul no momento?
Não. Vendo o caso da Colômbia, com sua certa dependência dos Estados Unidos, não divido a opinião de que a CAN esteja mais coesa do que o Mercosul. É claro que tem mais tradição – basta ver as datas de fundação –, mas creio que se a Bolívia se mostrar disposta a cooperar com o Mercosul, quem sabe até integrar-se... Poderia se pensar em ampliá-lo e unificar ambos os grupos.
Isto é, não estou falando da Alca pretendida pelos Estados Unidos – desde o Alasca até a Terra do Fogo, uma região econômica sem nenhum tipo de acordos sociais –, mas sim que os países latino-americanos se unam e consigam solucionar seus problemas entre si. Uma união de Estados americanos, quiçá seguindo o exemplo da União Européia.
O que uma associação com a Comunidade Andina e o Grupo de São José traria à União Européia?
Por um lado, uma cooperação mais estreita; por outro, nós nos entendemos como um bloco democrático dentro da comunidade internacional. Queremos criar comunidades econômicas que beneficiem a ambas as partes, mas o social é um importante aspecto.
Ou seja, queremos que os grupos menos privilegiados se beneficiem das riquezas, não somente alguns poucos. Isto é, queremos contribuir para criar uma ordem mundial social e ecológica e também que trabalhemos juntos, quiçá, no contexto da Organização Mundial de Comércio, em certos pontos centrais.