África, tema recorrente
15 de maio de 2007"A África é, por definição, o problema social da comunidade mundial", comenta o especialista em assuntos africanos e em cooperação para o desenvolvimento Cord Jakobeit. Naturalmente essa definição não se aplica a todos os países do continente.
Entretanto, desde os anos de grande esperança sucedendo o jugo colonialista, em muitos casos a situação política e econômica teria tendido antes a deteriorar do que a melhorar.
Generosidade forçada e discutível
Há dois anos, no encontro de cúpula de Gleneagles, a África também esteve no foco das atenções das mais ricas nações industriais. Estas decidiram dobrar, até 2010, sua ajuda ao desenvolvimento, assim como libertar os países mais carentes de suas montanhas de dívidas. Para tanto, aprovaram o perdão de 40 bilhões de euros de dívidas, como incentivo à auto-ajuda.
Denis Tull, perito em África do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), vê essa iniciativa de forma basicamente positiva. Entretanto é preciso não superestimá-la.
"As dívidas foram perdoadas sabendo-se que jamais seriam pagas." Afinal de contas só os governos africanos podem decidir se aplicarão corretamente ou não as quantias assim liberadas, lembra Tull.
Falsas metas do milênio
Nas Metas do Milênio das Nações Unidas, a comunidade internacional se comprometeu a combater a pobreza em todo o mundo. Justamente os países do G8 enfatizaram essa intenção, prometendo dar o bom exemplo.
Entretanto a ajuda internacional ao desenvolvimento minguou em 2006. "Os países do G8 quebraram a palavra", critica Jakobeit. "As perspectivas são obscuras, no tocante à promessa do G8 de elevar significativamente sua contribuição para a ajuda ao desenvolvimento."
Avareza do G8
Os números mais recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) confirmam esta opinião. Ao todo, seus 20 países-membros empregaram no último ano 5% a menos no setor do que em 2005.
Os mais avarentos foram a Itália (-30%) e os Estados Unidos (-20%), ambos membros do G8. O relatório da OCDE também revela que – embora do ponto de vista absoluto sejam os maiores doadores – considerando-se a relação entre contribuições e desempenho econômico, é somente em sétimo lugar que um membro do G8 aparece na lista. Quatro dos oito doadores mais modestos pertencem igualmente ao exclusivo clube das principais potências econômicas.
Ajuda ou auto-ajuda?
O conceito de ajuda ao desenvolvimento vem sendo colocado em questão, não só pelas nações doadoras, como também por representantes da África. Assim, o economista James Shikwati rejeita a política convencional de desenvolvimento. Ele aposta no progresso por esforço próprio.
"Sem verbas estrangeiras, os governos teriam que fomentar o desenvolvimento econômico originado no próprio país", declarou o queniano ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Denis Tull tampouco crê que a ajuda ao desenvolvimento seja uma panacéia universal. "Ela só pode ter um efeito circunscrito, como toda medida que vem de fora." É arrogante pensar que se possa direcionar certos processos econômicos e políticos, de tal forma que o resultado corresponda exatamente às expectativas do Ocidente, critica o especialista alemão.
Sofrimento continua
A situação na África é realmente arrasadora. Quase 75% dos que vivem ao sul do Sahara têm que se contentar com menos de dois dólares por dia. A região também é a que menos lucra com a globalização. Segundo dados da ONU, dois terços das nações menos desenvolvidas se localizam no continente africano.
Nas últimas décadas já foram aplicadas centenas de bilhões de euros em ajuda ao desenvolvimento. Porém, como demonstram os estudos de longo prazo, só nos casos mais raros alcançaram-se resultados sustentáveis.