Instabilidade em Cabo Delgado afeta turismo
27 de dezembro de 2018Na ilha do Ibo, situada no arquipélago das Quirimbas, a cerca de 80 quilómetros da capital provincial, Pemba, é possível apreciar várias espécies marinhas, praticar o mergulho em águas cristalinas e pescar. Também a beleza paisagística e arquitetónica atraem os visitantes. Ao longo da sua história, a ilha do Ibo foi sempre lugar de eleição de turistas em todas as épocas e especialmente no final de ano. Mas a situação em 2018 é outra.
Os operadores turísticos dizem que os ataques no extremo norte da província causaram um decréscimo importante dos visitantes na ilha. Os cancelamentos prejudicam o negócio, diz Chris Chris, proprietário de uma estância turística na ilha: "Eu estou aqui há quatro anos e meio e o turismo só registava subidas. Em 2018 já perdemos 25% de turismo no Ibo devido aos ataques no continente. As pessoas têm medo. Acham que há muitos problemas no Ibo. Em junho e julho tivemos 300 reservas canceladas", desabafou.
População afetada por quebra
Jörg Salzer, cidadão alemão que explora um hotel na ilha há mais de dez anos, também não esconde o seu desagrado com a situação. "Nos anos anteriores havia muito movimento turístico, mas sabemos que estão a acontecer ataques, embora muito mais do lado de Palma. As notícias de lá e de outros lugares são más e influenciam negativamente o nosso negócio", diz Salzer.
A situação afeta todos os ilhéus dependentes do turismo, sobretudo no comércio artesanal. Atija Bacar é gerente de uma loja que vende peças de artesanato. "Aqui vende-se roupa, colar de palha, colar de folha de mangueira, colar de matope, pasta, anel, esteira. Mas este ano o movimento está muito fraco, não há clientes", disse Bacar à DW África, salientando as implicações negativas no rendimento.
Polícia reforça medidas de segurança
As autoridades do turismo em Cabo Delgado afirmam que, este ano, o desempenho do setor registou subidas na ordem de 2% em comparação a 2017. Mas Iolanda Nilza Almeida, diretora provincial de Cultura e Turismo ressalva que não se trata de um aumento significativo: "No ano passado tivemos 212.852 dormidas e este ano tivemos mais, 216.425. É certo que tivemos maior número de turistas nacionais", mas as entradas dos turistas estrangeiros recuaram bastante, disse a responsável.
A DW África informou-se junto à polícia local sobre as medidas de segurança na província, principalmente nos locais turísticos como a Ilha do Ibo. Augusto Guta, porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Cabo Delgado descreveu a situação como calma e controlada. "Estamos reforçados em meios humanos e materiais e estaremos fazendo patrulhamento, usando todos os meios que temos nestes lugares turísticos e em toda a extensão da província de Cabo Delgado", disse Guta.
Identidade de assaltantes por esclarecer
Populares e turistas interpelados pela DW África consideram a ilha um local seguro. Um sentimento que é partilhado pelos operadores turísticos, como Jörg Salzer: "Nunca aconteceu algo mau ou violência no Ibo, nem no caminho para aqui. E nunca aconteceu nada em Pemba. Esta zona específica é bem segura, não há problemas de segurança aqui".
Os ataques de grupos armados desconhecidos nos distritos situados na zona norte de Cabo Delgado iniciaram em outubro de 2017. Durante a apresentação do seu Informe sobre o Estado Geral da Nação, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, associou o fenómeno a banditismo e prometeu medidas para neutralizar os "malfeitores".