Uganda: Ativismo e controvérsia da académica Stella Nyanzi
25 de maio de 2017Volta esta quinta-feira (25.05) ao tribunal, no Uganda, Stella Nyanzi. A académica já é uma figura conhecida no país por militar contra o Governo nas redes sociais, onde ganha cada vez mais apoio. Depois de 33 dias de prisão, ela foi libertada sob fiança em 10 de maio, mas ainda tem de enfrentar acusações.
A ativista foi presa depois de postar ofensas em sua página no Facebook, comparando o Presidente Yoweri Kaguta Museveni a "um par de nádegas" por não cumprir a sua promessa de fornecer pensos higiénicos para meninas em idade escolar.
As críticas de Stella Nyanzi também eram dirigidas à primeira-dama, Janet Museveni, ministra ugandesa da Educação. Segundo a ativista, muitas meninas faltam a escola por não ter acesso aos pensos higiénicos.
Controvérsia
Nyanzi é franca em sua oposição ao Governo de Museveni, no poder há 31 anos. Mas um dos principais motivos para o seu sucesso nas redes sociais é o tom de suas mensagens, que sempre trazem conotações sexuais.
Apesar de muitos ugandenses a considerarem excêntrica, a maioria foi pega de surpresa quando a académica decidiu tirar as suas roupas de baixo como forma de protesto depois que ela foi proibida de entrar no seu escritório, no Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Makerere.
O chefe do instituto, professor Mahmood Mamdani, afirmou que Nyanzi não tinha cumprido a sua obrigação contratual de ensinar os alunos.
Depois de encontrar um cadeado na porta do seu escritório, Nyanzi decidiu trancar a entrada principal do campus antes de declarar aos repórteres: "A polícia só protege o Mamdani. Eu vou me proteger com minha nudez e vou tirar as roupas de baixo também se a polícia não me deixar em paz".
O escritório foi devolvido a ela depois que o vice-chanceler da universidade interveio.
Métodos não-ortodoxos
Muitas pessoas acham que a maneira como Nyanzi promove seus ideais beira quase o inadequado. Os ugandenses costumam usar conotações sexuais na conversação cotidiana, mas várias pessoas estão começando a sentir que a ênfase utilizada por Stella Nyanzi nessa forma de comunicação ultrapassa o aceitável.
Mas o professor Mwambutsya Ndebesa, que trabalhou com Nyanzi na Universidade Makerere há mais de 5 anos, disse à DW que a ativista criou seu próprio nicho de apoiadores.
"Eu acho que a sociedade não está totalmente de acordo, e eles não a entenderam, então ela está tentando também procurar espaço dentro dessa sociedade conservadora", disse Mwambutsya.
Ele também acredita que os métodos utilizados pela académica quase sempre resulta em repulsão das autoridades.
"Talvez isso seja o que os académicos devem fazer, mas quando você desafia a ortodoxia nos governos estabelecidos, você espera consequências, e isso é o que está acontecendo com Stella Nyanzi", disse ele.
O professor Ogenga Latigo, ex-pesquisador da Universidade de Makerere e ex-líder ugandês da oposição, disse à DW que, embora considere Nyanzi uma académica brilhante, também vê problemas nisto.
"O desafio do brilhantismo é que às vezes você está no limite, você deixa de ser normal. Há coisas que ela vê e que as pessoas normais não vêem em termos de como transmitir mensagens", disse ele.
"Imediatamente depois que ela fez o que fez [insultou o Presidente no Facebook] ela foi para a prisão, mas o mundo inteiro recebeu a mensagem e essa é a essência de seu brilho", ressaltou.
Contudo, Latigo acredita que a atitude destemida de Nyanzi acabará por prevalecer. "O fato é que Stella Nyanzi não teme por si mesma, ela vai achar mais fácil morrer do que ficar quieta com uma ideia que está incomodando sua mente. Então, se você pensa que pode mantê-la na prisão, você está desperdiçando seu tempo".
Crescente base de apoio e família
Após os últimos acontecimentos, o número de apoiadores de Nyanzi cresce cada vez mais. Várias pessoas de diferentes esferas da sociedade frequentam regularmente suas sessões de corte, desde políticos locais até cidadãos comuns.
Nyanzi pode ser conhecida por sua língua ácida, mas sua irmã, Shelia Nyanzi, insiste que "dentro do duro contexto académico está uma mãe bondosa e atenciosa".
Como mãe de gêmeos, Nyanzi também é tradicionalmente referida como Nalongo – ou quem dá a luz a gêmeos. No grupo étnico de Buganda, estas mulheres são tratadas com respeito e têm permissão para usar linguagem obscena para expressar-se.
"Ela é nosso pilar, ela é uma inspiração para os filhos e ela nunca vai deixar um erro passar em branco", disse Shelia Nyanzi.