Dia dos Povos Indígenas
9 de agosto de 2007Falar de Evo Morales é imprescindível, quando se celebra o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Após mais de um ano na presidência, os poderosos da província de Santa Cruz ainda não o apóiam. Os ricos proprietários de terra da elite boliviana nunca formaram parte de sua base eleitoral e, certamente, jamais o farão. Evo Morales foi levado até a presidência pelos "mais marginalizados, mais abandonados, mais diminuídos na história da América Latina", disse ele próprio, referindo-se a seus eleitores indígenas.
"A eleição de Evo Morales tem um importante valor simbólico para a causa indígena. Na Bolívia, ocorreu uma mudança não só no plano econômico ou de gestão de governo, mas também na conscientização dos direitos dos povos indígenas", disse Tangmar Marmon, membro da Cooperação Técnica Alemã (GTZ), em entrevista à DW-WORLD.DE.
O simbolismo da ascensão de Morales ao poder atravessa as fronteiras bolivianas e dá asas ao movimento em toda a América Latina: um índio, com um programa de governo pró-indígena e educado em agrupamentos indígenas torna-se presidente.
Unidos sob a mesma bandeira política
Em 2004, Marmon trabalhou para a Delegação Presidencial Anticorrupção da Bolívia, viveu um ano naquele país latino-americano e em 2006 desenvolveu junto com a colega Andrea Kramer um estudo sobre a transformação dos movimentos indígenas da região em organizações políticas.
"Os movimentos indígenas têm que se decidir: querem lutar apenas por lutar, fazendo muito barulho, mas alcançando poucos resultados? Então o melhor é não se adaptar às regras do jogo democrático e manter-se como oposição extraparlamentar. Se, ao contrário, preferem orientar-se em direção a objetivos concretos, têm que se tornar um partido político", concluiu Marmon em seu trabalho.
Em alguns países da América Latina, como a Bolívia ou o Equador, a política está sendo cada vez mais influenciada pelas reivindicações de quem compõe a maioria da população. Em outros, onde a porcentagem de povos indígenas é mais reduzida, sua representação parlamentar se dará à medida que conseguirem unificar suas posturas.
"Um dos principais problemas para os índios de países onde são minoria, como por exemplo o Brasil, é que eles estão divididos em diferentes grupos em confrontação", explicou Marmon.
Roteiro político
Uma vez constituídos os partidos políticos indígenas, é preciso buscar um eleitorado mais amplo, composto também por eleitores não-indígenas. Para atraí-los, o melhor discurso dos partidos indígenas é apresentar-se como oposição à corrupção habitual dos partidos tradicionais.
"Os índios são tão suscetíveis a cair no clientelismo como qualquer outro político", lembra Marmon. "A grande vantagem dos partidos indígenas é que eles são recentes e, lamentavelmente, tenho que dizer nestes termos: ainda não tiveram tempo de aprender as regras informais do jogo: compra de opositores, de votos, etc."
Quando os movimentos indígenas alcançam o poder, precisam tornar suas promessas eleitorais em realidades práticas. A formulação de uma nova constituição tem então, na Bolívia e no Equador, um papel central. Dentro de alguns dias, os equatorianos serão chamados às urnas para eleger os membros que formarão a Assembléia Constituinte.
Sobre simbolismo e direitos
"Redigir uma constituição é um ato sumamente simbólico, por isso tem tanta importância. É mais um instrumento retórico que de mudança real", opina Marmon. Assim, os povos nativos da América Latina vão criando seus próprios mitos não apenas sociais, mas também políticos, à medida que o repúdio às suas raízes e herança cultural vai sendo relegado a um passado, no qual ser índio significava estar condenado à discriminação.
Apesar de todo o simbolismo, celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas é relevante "porque serve para lembrar que há gente entre nós que não tem os mesmos direitos, e que ainda levará muito tempo para ter", concluiu Marmon.