Poder de vida e morte
26 de dezembro de 2008Na televisão da Geórgia, heróicas imagens de guerra, montadas como um videoclipe e sublinhadas por música, alternavam-se com declarações de amor à pátria emitidas por personalidades nacionais.
Enquanto isso, as emissoras russas difamavam o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili. Um repórter o compara a Hitler. Um trecho de um discurso de Saakashvili, apresentado em preto-e-branco, é repetidamente cortado pela imagem do ditador alemão. Por fim, um psicólogo busca fundamentar a tese cientificamente.
Propaganda em vez de notícias
Inútil procurar um olhar crítico sobre o conflito em qualquer dos dois países. Para jornalistas ocidentais como o correspondente da emissora alemã ARD em Moscou, Stephan Stuchlik, não foi fácil o acesso a informações fidedignas em que pudesse basear seu noticiário. Ele não podia confiar na mídia oficial russa nem na georgiana.
"No momento em que eclodiu o conflito, a mídia dos dois países reagiu com nacionalismo. O que ia ao ar eram peças de propaganda", recorda Stuchlik. Esse fato foi fatídico para a imprensa ocidental na hora de informar de forma imparcial. Segundo o correspondente alemão, o desequilíbrio inicial deveu-se ao fato de Tbilisi ter mais consciência do poder das imagens do que seus oponentes russos.
Os georgianos ofereceram, por exemplo, ônibus para levar os jornalistas à Ossétia do Sul, avisando: "Aqui se passou algo de terrível, aqui estão os parentes, podem perguntar a eles, por favor".
Imagens indeléveis
Contudo, quando Stuchlik, único repórter do Ocidente na Ossétia do Sul, falou com as vítimas e testemunhas também sobre os atos de crueldade do exército georgiano, a percepção pública da guerra alterou-se de um só golpe – também em nível internacional.
A ARD vendeu seus vídeos como material exclusivo às emissoras e agências de notícias ocidentais. Mas Stuchlik sentiu na própria pele o poder das imagens: de início ninguém queria acreditar em sua versão de que também os tanques da Geórgia atacavam há vários dias a capital sul-ossetiana, Tskhinvali.
"Notou-se que esses três dias de noticiário anti-russo – sem contraponto – haviam deixado sua impressão não só entre a população, mas também em meus chefes e na redação de notícias", comenta.
Triângulo de interesses
No entanto, para poder representar de forma jornalisticamente correta a guerra do Cáucaso e também a mal resolvida situação do conflito, não basta revelar quem atirou primeiro, continua o correspondente da ARD. As tensões entre a Ossétia do Sul e a Geórgia datavam já da era soviética. E o papel de Moscou nesse conflito não é isento de interesses próprios.
O fato é que, também através da mídia, Putin e Saakashvili agravaram esse conflito nos últimos anos. Ambos tornaram as televisões de seus países instrumentos do Estado e fizeram fechar as emissoras críticas ao sistema. Só se noticiava sobre as agressões do adversário. A informação verdadeira para a população foi a primeira vítima.